São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A maturidade tecnológica brasileira
ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE
Em contraste, quando se desenhava um esquema igualmente excludente para a adoção de uma dentre três tecnologias básicas para a TV digital, viu-se, quando alertado, o Executivo tomar uma posição de saudável expansão do corpo deliberativo. É verdade que um corpo técnico especializado já existia. Todavia, havia suspeitas de contaminação, pois prolongados encontros fechados entre os pesquisadores brasileiros e comitivas de representantes de uma das concorrentes vinham ocorrendo com certa freqüência. Contudo, a opinião desses técnicos deve ser levada em consideração, não obstante o fator altamente sugestivo de que a tecnologia por eles eleita só havia sido adotada definitivamente em duas cidades do Japão e de que todos os países da Ásia tenham optado pela tecnologia européia, talvez porque a considerassem mais aberta. O fato de que se tenha constituído um grupo formado por seis ministérios e seus ministros tenham se reunido sob a direção do presidente da República deve satisfazer a opinião pública, pois trata-se de uma decisão fundamental para a modernização tecnológica do país. É também alvissareiro o fato de que uma ampla consulta se anuncia não somente a setores tecno-científicos mas também a vários setores empresariais. Todavia, prenúncios de amadurecimento tecno-científicos já existiam há algum tempo, embora nem todos tenham percebido. Alguns números demonstram claramente esse processo, pois refletem a importância dada pelo governo federal à ciência e à tecnologia nos últimos anos. O principal item orçamentário relativo à pesquisa é o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Ainda durante o período de exceção, caiu de R$ 550 milhões, em 1980, para R$ 220 milhões, em 1983, sendo reconstituído parcialmente (R$ 320 a R$ 350 milhões) de 1985 a 1987. A partir do fim da administração Sarney, o FNDCT oscila entre ridículos R$ 50 milhões por ano e míseros R$ 200 milhões por ano. Só volta a crescer nos últimos dois anos do segundo mandato de Fernando Henrique, não atingindo, entretanto, os patamares anteriores a 1980 (preços de 2004). Somente nos três últimos anos vem a execução financeira do FNDCT a crescer significativamente, alcançando em 2004 o valor sem precedentes de R$ 780 milhões, cinco vezes a média do primeiro período da administração Fernando Henrique. Também os números de bolsas de mestrado e de doutorado no Brasil e no exterior cresceram em pelo menos 20%. Os investimentos do CNPq em pesquisas (fomento) dobraram em 2004 em relação a 2000, e são hoje 80% maiores do que em 2002. Esses números e o recente desenvolvimento no caso da TV digital demonstram que cresce a interação e o suporte mútuo entre o sistema de ciência e tecnologia e o governo, e essa é a única via para a maturidade de um país em ciência e tecnologia. Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 74, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro do Conselho Editorial da Folha. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Boaventura de Sousa Santos: O mundo solidário, 2006 Índice |
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