São Paulo, sábado, 05 de fevereiro de 2011

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Tensão no Egito

Apesar da violência dos últimos dias no Cairo, saída do ditador Mubarak e uma transição negociada parecem ser o cenário mais provável

Em 14 de outubro deste ano, o ditador egípcio, Hosni Mubarak, completaria 30 anos no poder. Ao que tudo indica, o déspota não chegará a comemorar a data.
Ontem, 11º dia dos protestos que paralisam o Egito, milhares voltaram à praça Tahrir ("libertação"), no Cairo. A violenta reação de grupos pró-Mubarak nos últimos dias, ao que parece uma massa de policiais à paisana e mercenários, provou-se insuficiente para calar o clamor popular.
O ditador de 82 anos afirmou que está farto do poder e só não sai por temer que o Egito "afunde no caos". As indicações do momento, porém, são de que sua partida já é negociada com os EUA.
O principal candidato a sucedê-lo, nesse cenário, é o general Omar Suleiman, escolhido por Mubarak para ser seu vice na semana passada, depois de o posto ficar vago por três décadas.
O Egito pós-Mubarak projeta uma série de enigmas. O primeiro diz respeito ao Exército, décimo maior do mundo, com 500 mil homens. Instituição respeitada no país, é guardiã de valores nacionalistas e seculares. Pode vir a representar um papel semelhante ao do Exército turco, que atua como freio ao radicalismo islâmico.
O segundo enigma concerne a Irmandade Muçulmana, organização religiosa criada em 1928, durante luta contra o domínio britânico. Na ilegalidade desde os anos 50, compõe-se de maioria moderada que rejeita a violência, mas abriga bolsões extremistas.
A Irmandade tem apoio estimado de 20% a 30% da população. Resta saber se adotará um programa equilibrado para ampliar sua base ou se, menos provável, apostará numa radicalização ao estilo dos palestinos do Hamas.
Por fim, há o posicionamento dos EUA. Por décadas apegados à noção de que é melhor uma ditadura amiga do que o risco de uma teocracia islâmica, em poucos dias evoluíram do apoio inicial a Mubarak a pedidos inequívocos para que deixe o poder. Já parecem dar-se conta de que o futuro governo egípcio será menos submisso a seus interesses.
O Brasil, nesse aspecto, tem adotado a cautela necessária diante da situação volátil, numa região em que o país possui poucos interesses diretos. A nota dissonante veio da embaixada no Cairo, de onde partiram declarações alguns tons acima do oficial.
O futuro governo egípcio terá de se posicionar sobre muitos temas sensíveis, do tratado de paz de 1979 com Israel ao respeito às minorias religiosas. Uma transição ordenada, agora, é o melhor cenário para afastar o espectro de convulsões mais violentas no país.


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