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São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Perguntas certas, autor errado

SÃO PAULO - Agora que a governadora Rosinha Garotinho pediu que a presença do Exército nas ruas do Rio se prolongue por mais 30 dias, quem sabe o brasileiro resolva abdicar da mania de tentar contornar os problemas e se dedique a uma discussão séria sobre o papel e a função de suas Forças Armadas.
Se não o fizer, será atropelado pelos norte-americanos, que, para o bem ou para o mal, não são exatamente de tergiversações.
Paulo Sotero relata em "O Estado de S.Paulo" de ontem que o general James Hill, chefe do Comando Sul, cobra uma revisão dos conceitos que orientam as Forças Armadas com o argumento de que "a ameaça hoje é o terrorista, o narcotraficante, os traficantes de armas, o forjador de documentos, os chefões do crime internacional e quem lava dinheiro".
Exceto pela inclusão do termo "terrorista", que os EUA aplicam com a mesma facilidade com que, nos anos sombrios, se usava "subversivo", é difícil discordar do general.
Outro ponto em que é difícil discordar dele é quando afirma: "Precisamos ter a coragem e a honestidade para avaliar como nossas Forças Armadas são configuradas, treinadas e equipadas".
É curioso que, no Brasil, o debate sobre a utilização das Forças Armadas no combate ao crime organizado é descartado com o argumento simplório de que elas não são treinadas nem preparadas para isso.
Claro que não. Mas, no mínimo, no mínimo, quem usa esse argumento deveria fazer a pergunta seguinte inevitável: para que, então, são preparadas? Para enfrentar algum exército da Otan? Seria um massacre. Para enfrentar o Exército paraguaio? Seria uma rematada loucura.
Não estou seguro de que seria conveniente envolver as Forças Armadas no combate ao crime. Mas fugir de pelo menos discutir a questão é abrir espaço para que o debate seja moldado por opiniões externas, ainda mais quando são poderosas e levantam pontos inquestionáveis.


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