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CLÓVIS ROSSI
Perguntas certas, autor errado
SÃO PAULO - Agora que a governadora Rosinha Garotinho pediu que a
presença do Exército nas ruas do Rio
se prolongue por mais 30 dias, quem
sabe o brasileiro resolva abdicar da
mania de tentar contornar os problemas e se dedique a uma discussão séria sobre o papel e a função de suas
Forças Armadas.
Se não o fizer, será atropelado pelos
norte-americanos, que, para o bem
ou para o mal, não são exatamente
de tergiversações.
Paulo Sotero relata em "O Estado
de S.Paulo" de ontem que o general
James Hill, chefe do Comando Sul,
cobra uma revisão dos conceitos que
orientam as Forças Armadas com o
argumento de que "a ameaça hoje é o
terrorista, o narcotraficante, os traficantes de armas, o forjador de documentos, os chefões do crime internacional e quem lava dinheiro".
Exceto pela inclusão do termo "terrorista", que os EUA aplicam com a
mesma facilidade com que, nos anos
sombrios, se usava "subversivo", é difícil discordar do general.
Outro ponto em que é difícil discordar dele é quando afirma: "Precisamos ter a coragem e a honestidade
para avaliar como nossas Forças Armadas são configuradas, treinadas e
equipadas".
É curioso que, no Brasil, o debate
sobre a utilização das Forças Armadas no combate ao crime organizado
é descartado com o argumento simplório de que elas não são treinadas
nem preparadas para isso.
Claro que não. Mas, no mínimo, no
mínimo, quem usa esse argumento
deveria fazer a pergunta seguinte
inevitável: para que, então, são preparadas? Para enfrentar algum exército da Otan? Seria um massacre. Para enfrentar o Exército paraguaio?
Seria uma rematada loucura.
Não estou seguro de que seria conveniente envolver as Forças Armadas
no combate ao crime. Mas fugir de
pelo menos discutir a questão é abrir
espaço para que o debate seja moldado por opiniões externas, ainda mais
quando são poderosas e levantam pontos inquestionáveis.
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