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Editoriais
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A real grandeza
Profundidade da corrupção no Brasil, em especial na gestão dos fundos de pensão, está para ser dimensionada
O CASTELO de um parlamentar, a mansão de
um alto funcionário do
Senado, os gastos em
cartões de crédito corporativos:
não faltam exemplos, no noticiário do dia ou no passado recente,
da sem-cerimônia com que a camada política espalha os mais
claros indícios de uso do poder
para fins de desfrute e enriquecimento pessoal.
A visibilidade desses casos, a
que se somam frequentes divulgações de vídeos trazendo cenas
de corrupção, naturalmente desperta ondas periódicas de indignação na opinião pública.
É mais raro, contudo, que se
consiga ir além do que parece ser
apenas a ponta de um gigantesco
iceberg. A disputa pelo controle
da Fundação Real Grandeza, que
concentra recursos dos funcionários da Furnas Centrais Elétricas, propiciou um desses momentos em que se pode intuir
com mais nitidez o volume das
ambições e dos interesses em jogo na vida política real.
Uma parcela do PMDB, representada pelo ministro das Minas
e Energia, Edison Lobão, viu
frustrada, na última semana, sua
terceira tentativa de destituir a
diretoria do fundo previdenciário, cuja carteira de investimentos detém quantias superiores a
R$ 6 bilhões.
O Real Grandeza já esteve no
foco de disputas políticas decisivas no passado. O presidente do
PTB, Roberto Jefferson, declarou na última semana que o interesse de seu partido em Furnas
foi o que desencadeou sua investida contra o então ministro da
Casa Civil, José Dirceu, e a denúncia do esquema do mensalão.
Reportagem publicada ontem
em "O Estado de S. Paulo" mapeia a situação nos dez principais
fundos previdenciários de estatais. Segundo o jornal, o ex-deputado José Dirceu mantém sob
sua esfera de influência o Funcef, dos funcionários da Caixa
Econômica Federal, com um patrimônio de R$ 33,4 bilhões.
O presidente da Petros (R$ 41
bilhões) foi indicado pelo ex-ministro Luiz Gushiken. No maior
fundo de pensão das estatais brasileiras, a Previ, do Banco do Brasil (R$ 136,6 bilhões), o controle
está reservado à cúpula do PT.
No Rio Grande do Sul, o fundo
de pensão da companhia elétrica
estadual tem sob seu comando
um nome indicado pelo PSDB. O
PMDB faz o mesmo no Paraná e
em Minas Gerais.
No Refer, fundo de ferroviários
e metroviários, não há consenso
quanto aos R$ 2,9 bilhões que se
administram. Noticia-se agora
que o ministro dos Transportes,
Alfredo Nascimento (PR), pretende conquistar um espaço já
loteado entre PT, PMDB e PP.
Não há, na prática, partidos ou
lideranças políticas efetivamente interessados em investigar as
eventuais irregularidades na gestão dessa massa de recursos, cujo
controle se disputa, em geral, às
escondidas do público.
Se casos espetaculares e, digamos, "fotografáveis" de corrupção continuam a despertar reações de inconformismo na população, tudo indica que se está
longe de conhecer as verdadeiras
dimensões do processo. Sua real
grandeza, vá lá o termo, ainda está por vir à tona.
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