São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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RUY CASTRO

As tábuas da lei

RIO DE JANEIRO - Os 50 anos da bossa nova tomaram o lugar dos 200 anos da chegada da corte em matéria de presença na mídia, de eventos comemorativos e de justo oba-oba. Mas há um departamento em que a saga do príncipe dom João está deixando a de João Gilberto, longe, para trás: na publicação de documentos originais.
De Oliveira Lima ao padre Perereca, todos os livros clássicos sobre os primeiros anos da corte no Rio terão saído até o fim do ano; muitos outros, de alto nível, produzidos agora, idem; e a corte tem aparecido também na ficção, em livros de divulgação jornalística e até em história em quadrinhos.
A bossa nova não está tendo a mesma sorte. Suas verdadeiras tábuas da lei -os três primeiros LPs de João Gilberto, gravados na Odeon entre 1959 e 1961- continuam fora do ar, pelo interminável litígio judicial entre o cantor e a gravadora. Da mesma forma, o disco "Canção do Amor Demais", de 1958, com Elizeth Cardoso e o violão de João Gilberto, está emperrado por exigências dos herdeiros de Elizeth ao selo Festa, dono dos fonogramas.
Os shows históricos de bossa nova na Faculdade de Arquitetura, na rádio Globo e na Escola Naval, em 1959 e 1960, que foram todos gravados, continuam privilégio dos poucos possuidores de suas cópias domésticas. Da mesma forma, as fitas do show "O Encontro", com João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os Cariocas, e do concerto completo no Carnegie Hall, ambos de 1962, seguem indisponíveis para o mercado.
Assim, não espanta que as gravações do conjunto vocal Garotos da Lua, com João Gilberto como crooner, de 1951, e outros discos reveladores da pré-bossa nova, produzidos desde 1945, continuem inéditos em CD. Exceto, claro, no Japão. E na internet, onde tudo isso circula e pode ser capturado de graça.


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