São Paulo, terça, 5 de maio de 1998

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O cordeiro e o lobo



A Síria apóia oLíbano árabe e suas posições sobre o sul ocupado com todas ascondições materiais e morais
HICHAM NEEME

Voltamos a quem era cordeiro e se transformou em lobo, a quem não era nada e dele fizeram tudo. O sr. Dory Chamoun ("O Líbano e as intenções da Síria", pág. 1-3, Opinião, 19/4) jamais havia trabalhado na política, nem na época do seu pai, Camille Chamoun, nem na do seu irmão Dany. Vivia à margem.
Prova disso é que desconhece até hoje o que aconteceu no Líbano. Não sabe e não gostaria de saber que as milícias das forças libanesas mataram dezenas de patriotas livres. Até hoje, ao visitar o Brasil, desconhece quem matou Dany Chamoun. Pode ser que jamais tenha ouvido falar em Samir Geagea e seus crimes em solo libanês -entre eles, o assassinato de Dany e a explosão dos fiéis que rezavam dentro da igreja Nossa Senhora do Socorro.
Dory Chamoun nada sabe sobre os cruéis genocídios praticados pelas gangues sionistas no Líbano, principalmente a bárbara matança de Qana, repudiada e condenada pelo mundo.
Sopraram-no e encheram-no, como um tambor vazio. Cobriram-no de esperanças e expectativas. Nomearam-no líder-estátua do Partido Nacional Liberal; determinaram que visitasse a coletividade libanesa, a fim de dirigir as acusações contra o governo e as instituições constitucionais no Líbano e distribuir medalhas de ouro, prata e bronze. Seu pensamento é superficial e completamente leigo em relação à política.
Chamoun não reconhece o governo nem as instituições libanesas -e assim, consequentemente, o altivo povo árabe libanês que elegeu essas instituições. Ao mesmo tempo, pede que o governo do Líbano negocie com Israel e faça um acordo baseado nas condições determinadas para a retirada da região sul do país, atando o Estado libanês.
Dirige acusações e injúrias contra a Síria, fortaleza resistente, comandada pelo lutador presidente árabe Hafez al Assad, cujas posições de princípio nacionalista firme não lhe agradam, como não agradam a seus semelhantes oportunistas e a seus patrões.
Tenta se proteger por meio do patriarca Nasrala Sfeir e de outros líderes patrióticos repelidos pelo povo, como ele próprio, e conhecidos por todos. Ressaltamos que a Embaixada da Síria respeita o patriarca Sfeir, líder espiritual da Igreja Maronita, que prega fraternidade, amor, harmonia e espírito de colaboração entre os filhos da mesma pátria e entre todos os seres humanos. Ele sabe e percebe o que diz. Esses ensinamentos já haviam sido divulgados pelo santo árabe sírio Mar Maroun, sendo Jesus Cristo o mestre da pregação da fraternidade, do amor e da paz.
Nós, mais do que Chamoun, conhecemos o heróico povo libanês, que sofreu muito nas mãos das milícias, principalmente as traidoras e manipuladoras, e que continua sofrendo as mazelas da odiosa ocupação sionista.
O Líbano, por meio de seus líderes, deixou bem claro que a retirada do sul ocupado deve acontecer incondicionalmente, de acordo com a resolução 425, das Nações Unidas, cujo conteúdo não deixa margem a dúvidas ou interpretações suspeitas.
E a Síria árabe apóia o Líbano árabe e suas posições sobre a retirada do sul ocupado com todas as suas condições materiais e morais. Apóia também a heróica resistência libanesa no sul e se orgulha de seus atos.
Dory Chamoun luta a fim de afastar 500 mil palestinos do Líbano. Ele não gosta deles por serem árabes nem gosta de ouvir sobre qualquer coisa ligada ao arabismo. Ele luta pelo afastamento desses palestinos, mas para onde?
Seria mais digno se ele e todos os que alegam patriotismo lutassem pelo retorno dos palestinos à sua pátria original, da qual foram expulsos pelos bárbaros do século 20, e pela aplicação das resoluções do Conselho de Segurança que determinam a retirada sionista de todos os territórios árabes ocupados, dentre os quais o sul do Líbano.
Essas são as intenções dos funcionários da Embaixada da Síria, que têm princípios, são leais com tudo o que é árabe e trabalham em prol da causa de sua pátria e de sua nação árabe. Alguém acredita que um cordeiro possa transformar-se em lobo? Mas os cães latem e a caravana passa.

Hicham Neeme, 50, é funcionário do departamento de jornalismo da Embaixada da Síria no Brasil.



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