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CLÓVIS ROSSI
Pedras e palavras
BERLIM - Se a TV brasileira mostrou e se você viu os distúrbios
ocorridos na cidade alemã de Rostock, durante os protestos contra a
cúpula do G8, a inaugurar-se amanhã, cuidado para não confundir as
coisas. A violência é a arma de um
número reduzido de manifestantes,
em geral anarquistas, cuja única
proposta é jogar pedras no capitalismo e fazer manchetes.
A polícia alemã calcula que os
violentos não passem de 2.000, no
total, em meio a uma massa difícil
de calcular, porque se manifesta em
várias cidades, mas que chegou perto de 50 mil no sábado em Rostock.
Os outros grupos são, em sua
grande maioria, favoráveis a um outro tipo de globalização ou, para
usar o jargão, acreditam que "outro
mundo é possível". Não atiram pedras. Alguns atiram palavras ao
vento, que nem sequer arranham o
capitalismo. Mas há uma fatia ponderável que está, sim, mudando se
não o mundo ao menos sua agenda.
Basta saber que o grande assunto
deste ano entre chefes de governo
do G8 (os mais poderosos do planeta) será o aquecimento global, ou,
de forma mais genérica, a defesa do
ambiente.
Essa idéia vem da rua. Vem de
uma batalha morro acima de grupos ecologistas que até chegaram a
ser rotulados de "ecochatos".
Agora, depois que a ciência demonstrou que não eram chatos,
mas tinham o fio terra ligado, os governantes correm atrás.
Não é só nesse ponto que os que
chamei anos atrás de poetas conseguem mudar as coisas. O perdão da
dívida dos países mais pobres do
mundo é outro exemplo. Foi campanha de ONGs, virou decisão dos
governos. Funciona: a Oxfam diz
que o dinheiro desviado da dívida
para a educação na Tanzânia, por
exemplo, ajudou milhares de crianças a ter horizontes.
É pouco? Sim, claro. Mas é bem
mais do que fariam os governos sem
a pressão dos poetas, que, por definição, não jogam pedras.
crossi@uol.com.br
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