São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Pedras e palavras

BERLIM - Se a TV brasileira mostrou e se você viu os distúrbios ocorridos na cidade alemã de Rostock, durante os protestos contra a cúpula do G8, a inaugurar-se amanhã, cuidado para não confundir as coisas. A violência é a arma de um número reduzido de manifestantes, em geral anarquistas, cuja única proposta é jogar pedras no capitalismo e fazer manchetes.
A polícia alemã calcula que os violentos não passem de 2.000, no total, em meio a uma massa difícil de calcular, porque se manifesta em várias cidades, mas que chegou perto de 50 mil no sábado em Rostock.
Os outros grupos são, em sua grande maioria, favoráveis a um outro tipo de globalização ou, para usar o jargão, acreditam que "outro mundo é possível". Não atiram pedras. Alguns atiram palavras ao vento, que nem sequer arranham o capitalismo. Mas há uma fatia ponderável que está, sim, mudando se não o mundo ao menos sua agenda.
Basta saber que o grande assunto deste ano entre chefes de governo do G8 (os mais poderosos do planeta) será o aquecimento global, ou, de forma mais genérica, a defesa do ambiente.
Essa idéia vem da rua. Vem de uma batalha morro acima de grupos ecologistas que até chegaram a ser rotulados de "ecochatos".
Agora, depois que a ciência demonstrou que não eram chatos, mas tinham o fio terra ligado, os governantes correm atrás. Não é só nesse ponto que os que chamei anos atrás de poetas conseguem mudar as coisas. O perdão da dívida dos países mais pobres do mundo é outro exemplo. Foi campanha de ONGs, virou decisão dos governos. Funciona: a Oxfam diz que o dinheiro desviado da dívida para a educação na Tanzânia, por exemplo, ajudou milhares de crianças a ter horizontes.
É pouco? Sim, claro. Mas é bem mais do que fariam os governos sem a pressão dos poetas, que, por definição, não jogam pedras.


crossi@uol.com.br

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