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CARLOS HEITOR CONY
A gestante
RIO DE JANEIRO - Gestantes,
idosos e deficientes físicos têm
prioridade nas filas dos bancos.
Nem todos os idosos precisam provar o ano de nascimento com a carteira de identidade. Está na cara
que são idosos mesmo. Os deficientes também escapam da prova -infelizmente são óbvios.
Com as gestantes a coisa é mais
complicada. É preciso esperar alguns meses para que a gravidez fique explícita, inquestionável. Uma
gestante de dois meses, querendo
invocar o privilégio de não apodrecer na fila, pode mostrar o resultado
do laboratório que prova a gestação
e aí será merecedora do privilégio.
Ignoro se ainda existe o teste do
sapo. A suspeita de uma gravidez
era testada num sapo. Não sei se o
sapo morria ou apresentava qualquer sinal de anormalidade, mas
era tiro e queda para comprovar se
a gestante era gestante mesmo.
O respeito às gestantes é um dos
pontos simpáticos da civilização
humana. Nos ônibus, elas merecem
que alguém se levante e ceda o lugar. Trata-se de um cavalheiro. Toda a glória e louvor à gestante.
Responsável pela condição da
gestante, o gerador (ou gestor) é
mais ou menos como o sujeito oculto de uma frase gramatical. Há casos em que a gestante não sabe
quem é o gestor, mas isso é problema dela, mais dela do que do gestor.
São exceções à regra. Geralmente o
gestor acumula as funções de marido da gestante e se habilita às sobras que devemos àquelas que vão
gerar mais um herdeiro do "legado
da nossa miséria" -segundo Brás
Cubas.
A gestante tem de ser amparada
pelo gestor. Em tempos de independência da mulher, ela pode
assumir o ônus da gestação, mas, na
maioria dos casos, o gestor sempre
arranja um modo de assumir a
responsabilidade, por si ou por
terceiros.
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