São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2004

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INFLAÇÃO E METAS

Num cenário de aumento das pressões inflacionárias, que desperta manifestações de cautela das autoridades econômicas, não causou surpresa a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter inalterada a meta de inflação para 2005 em 4,5%, com margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais. Um sinal extra de precaução foi emitido no objetivo para 2006 -os mesmos 4,5%, mas com margem de apenas dois pontos. No limite da tolerância, o BC perseguiria metas de 7% e 6,5% nos próximos dois anos.
O debate em torno das metas ganhou relevância na medida em que a atuação do Banco Central foi-se revelando excessivamente restritiva. A resistência em avançar na redução dos juros, de modo a propiciar um ambiente mais estimulante para a produção e o emprego, foi seguidamente justificada pelo BC pela necessidade de cumprir as metas fixadas. Num quadro de forte contração da atividade econômica, como esta Folha já teve a oportunidade de se manifestar, a insistência em metas por demais ambiciosas acabou gerando sacrifícios adicionais ao setor produtivo.
É compreensível que, na atual conjuntura, o CMN tenha preferido assumir uma posição conservadora: aumentar a meta de 2005 poderia ser interpretado como leniência com os repasses de preços do atacado para o consumidor. Não deixa de compensar a rigidez demonstrada a evidência de que o BC acomodará, já neste ano, as pressões na margem de tolerância, abandonando a obsessão em cumprir o chamado centro da meta.
Ainda assim, os problemas permanecem. Nada justifica que as autoridades econômicas continuem trabalhando com o atual sistema de metas fixadas para um ano. Seria mais razoável estender o prazo e mesmo desvincular os objetivos do ano-calendário. Outro aspecto a ser aperfeiçoado é o índice de referência para a meta. Como ocorre em outros países, a inflação a ser perseguida pelo BC não pode ser idêntica àquela do consumidor. A meta é uma referência para a política monetária. Não faz nenhum sentido que preços administrados, como os da telefonia, sirvam de referência para decisões sobre o nível da taxa de juros. É certo que internamente o BC produz índices expurgados de fatores sazonais e preços administrados, mas não há transparência quanto à metodologia nem divulgação dos resultados.


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