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"Foi para o espaço"
Governo federal é o maior responsável pelo descontrole aéreo, mas empresas também têm participação na crise
NÃO HÁ dúvida de que o
maior responsável pela situação calamitosa
da aviação civil brasileira é o governo, que deixou de
fazer os investimentos necessários mesmo dispondo de recursos para tanto. Isso não significa
que as empresas aéreas não tenham sua parcela de responsabilidade na crise nem que a resolução das dificuldades não seja um
problema delas. Gostem ou não,
as companhias estão obrigadas a
operar nos limites da infra-estrutura aeroviária do país.
É de estranhar, portanto, a relutância das empresas em acatar
medidas óbvias de redução de
vôos em determinados horários
e rotas que permitiriam desafogar os pontos críticos e recompor
a malha aérea nacional -a qual, a
crer nas palavras do presidente
da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, "foi para o espaço".
A persistir a balbúrdia nos aeroportos, os maiores prejudicados depois dos passageiros serão
as companhias aéreas. Os consumidores estão, com toda a razão,
cada vez mais relutantes em
comprar um bilhete. Muitos desistem de viajar ou optam por
outros meios de transporte. Ou
bem as empresas aceitam uma
redução planejada de escalas de
vôo, ou o mercado acabará providenciando uma -e de forma
bem menos organizada.
É incrível que, nove meses
após o início dos tumultos, as
companhias ainda não tenham
desenvolvido um sistema eficaz
de comunicação com seus clientes. Parte dos transtornos poderia ser evitada se os passageiros
fossem alertados do atraso antes
de sair de casa. Mesmo quando
não é possível fazê-lo, o consumidor tende a ficar mais tranqüilo quando é mantido a par das razões do atraso e das perspectivas
de resolver o problema.
Persiste ainda a suspeita de
que empresas estejam se aproveitando da situação caótica. Os
motins de controladores e nevoeiros seriam uma cortina de
fumaça para o abuso de práticas
como "overbooking" e aglutinação de vôos com vistas a maximizar a ocupação das aeronaves.
No que tange ao "overbooking", é o caso de, seguindo o
exemplo de outros países, criar
medidas que ponham fim a esse
abuso. Se uma pessoa física vende algo que não tem, pode ser
presa e processada por estelionato. Empresas aéreas transformaram em norma a venda de assentos inexistentes. Quando prejudicam alguém, limitam-se a
acomodá-lo num vôo futuro. É
preciso aproveitar a consulta pública em curso para estabelecer o
dever de as companhias pagarem
indenização imediata, em espécie, aos prejudicados.
A confusão aérea é uma obra
coletiva que tem como autor
principal o governo e, como secundários, empresas aéreas,
controladores de vôos e até intempéries. É preciso, porém,
aproveitar a crise para tentar
criar um sistema aéreo melhor.
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