São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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KENNETH MAXWELL

Fidel x Lula = Açúcar

NA SEMANA passada, em Assunção, Paraguai, Evo Morales, da Bolívia, citou um editorial da revista "Economist", de Londres, e instruiu o presidente Lula quanto aos méritos da opinião de Fidel Castro sobre o etanol. A "Economist" afirmou que "Castro está certo" ao alegar que os biocombustíveis produzidos com base em milho desviariam alimentos para abastecer "carros famintos". Fidel, na realidade, foi bastante além. Classificou o acordo entre o Brasil e os EUA sobre o etanol como "internacionalização do genocídio". Assim, o que exatamente está acontecendo?
Dois fatos.
Primeiro, o etanol produzido do milho está mesmo sendo promovido pelos lobbies agrícolas da Europa e dos EUA, pesadamente subsidiados, protegidos por tarifas e politicamente poderosos. Mas o etanol de milho não é barato nem benéfico ambientalmente, e seu processo de produção não é eficiente em termos energéticos. E, a despeito de bilhões de dólares em subsídios, o etanol feito de milho nos Estados Unidos, que responderam por 44,5% da produção mundial de álcool combustível em 2006, continua a representar apenas 3,5% do combustível consumido no país. Segundo, o etanol feito à base de açúcar é mais barato e mais limpo.
Sua produção já não depende de pesados subsídios. Acumulando 30 anos de experiência, o Brasil hoje responde por 42,2% da produção mundial de etanol, toda ela com base na cana-de-açúcar, e três quartos dos automóveis do país podem funcionar com álcool. Além disso, como Lula lembrou corretamente a Morales na semana passada, "a experiência brasileira não compromete a segurança alimentar".
Assim, por que Fidel se preocupa com o perigo que o etanol feito de milho acarreta para o mundo? Cuba não produz açúcar? De fato o faz, mas o açúcar de Cuba não tem mercado. No entanto, a apenas 150 quilômetros de distância, do lado oposto do estreito da Flórida, o ex-governador estadual Jeb Bush é hoje co-presidente da comissão interamericana de etanol, em companhia de Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do Brasil, e de Alberto Moreno.
Deve ser patentemente óbvio para Fidel que, se algum país estaria em posição ideal para prosperar com o etanol feito de açúcar, no século 21, seria a Cuba pós-Castro, com a restauração do acesso que desfrutava antes do comunismo ao imenso mercado norte-americano; uma Cuba sem ele, evidentemente, e que sem dúvida estaria explorando em benefício próprio o conhecimento e a tecnologia desenvolvidos no Brasil.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de Paulo Migliacci



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