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JOSÉ SARNEY
Orçamento e gripe
O Elio Gaspari popularizou a
expressão "o dinheiro da viúva".
O Boris Casoy completou: "Está saindo do nosso bolso, uma vergonha!". A
contabilidade desses trocados está no
Orçamento da União, que todo ano é
proposto pelo Executivo, votado no
Legislativo e motivo de muita briga e
celeumas.
A menor crítica que se faz ao Orçamento é que se trata de uma peça de
ficção. São orçadas a receita e a despesa, mas nem uma nem outra são exatas e tudo fica no domínio da aproximação e da previsão. A coisa fica mais
irreal com os cortes e recortes, contingenciamentos (que palavra longa!) e
liberações, que fazem do Orçamento
-o tal "dinheiro da viúva"- um jogo de esconde e aparece, sem uma
avaliação clara do que se gasta e se arrecada.
O PT experimentou, em seus governos estaduais e municipais, o badalado orçamento participativo, que nada
mais é do que a doce ilusão de que o
povo é quem escolhe prioridades e
aloca recursos. Mas, como os recursos
são de ficção, o orçamento participativo também é. Partilham-se ilusões.
Agora, o governo Lula decidiu tentar
resolver o problema e anunciou: vamos fazer um orçamento verdadeiro,
que exprima a verdade orçamentária,
nada de chutes na despesa e na receita.
Nada de cortes e de simulações.
A coisa tornou-se difícil e vulnerável
a censuras. Primeiro, as reclamações
sobre diminuição de verbas para o setor social, com previsões abaixo do
exercício anterior. A gritaria foi geral,
de acreanos a gaúchos. A explicação
foi que se tratava de um orçamento
verdadeiro, sem escamoteações. Mas
não convenceu. Todos preferem um
orçamento de sonho para ser cortado
do que realista para ser cumprido.
Contra o "orçamento de verdade", logo foi dito que "isso não é verdade".
O presidente da Câmara, o competente deputado João Paulo Cunha,
tentou salvar o partido e defendeu:
"Este Orçamento não tem a cara do
PT". A oposição logo reagiu dizendo
que, se não tinha a cara, tinha a alma.
Outros quiseram consertar afirmando
que o ministro do Planejamento não
se furtava a colocar a cara, aceitando
que o Orçamento era a sua cara, e correu o perigo do velho ditado que diz
que "quem vê cara não vê coração".
Com meus anos de vivência em
questões de orçamento, posso dizer
que orçamento não tem coração, muito menos cara.
Essa discussão é pessimista. Se o Orçamento é uma ficção, o Congresso
que o vota e o Executivo que o propõe
são feitos de novelas e de novelos.
Mas a verdade é que o Orçamento
será sempre o possível. O presidente
Lula está com o bom propósito de fazer um orçamento realista, que, não
sendo impositivo, seja o retrato da
realidade.
Meu argumento se fortalece com a
notícia que nos vem da Universidade
de Wisconsin-Madison, nos Estados
Unidos, onde o neurocientista Davidson nos anuncia a boa nova de que otimismo e alto astral são um remédio
excepcional contra qualquer tipo de
doença. Ser otimista, acreditar nas
coisas, ajuda a curar problemas de
saúde. Os pessimistas morrem cedo, e
o segredo da longa vida é um convite a
pensar para a frente.
A pesquisa conclui que otimista não
tem gripe nem dor de cabeça e acredita em Papai Noel e em orçamento.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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