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TENDÊNCIAS/DEBATES
É positiva a proposta do governo de adotar o sistema de partilha de produção para o pré-sal?
SIM
Nova agenda para o Brasil
HENRIQUE FONTANA
A EXTRAÇÃO do primeiro óleo
da camada pré-sal no campo
de Jubarte, em setembro de
2008, inaugurou nova era da produção petrolífera no Brasil, selando o
significado da descoberta de abundantes jazidas que, na hipótese mais
conservadora, elevam as reservas
comprovadas de 14 bilhões para 28 bilhões de barris e firmam o Brasil entre os maiores produtores do mundo.
É nesse novo contexto que se insere
a proposta para o marco regulatório
do pré-sal, que o governo apresentou
ao Congresso há poucos dias.
O modelo proposto substitui o sistema de concessões pelo de partilha,
que permite ao país exercer maior gerenciamento da produção, garantindo o processo de industrialização nacional e evitando ao máximo a exportação de petróleo cru.
O Brasil é o único dos grandes produtores de petróleo que ainda adota
apenas contratos de concessão -por
meio do qual as empresas extraem,
industrializam ou não e exportam o
petróleo, de sua total propriedade.
Basta um breve olhar sobre a experiência internacional para constatar
que rever o modelo é necessário. Dos
15 países com as maiores reservas, 11
adotam exclusivamente o modelo de
partilha, 2 optaram pelo modelo misto e apenas 2 operam só com o sistema de concessões. Dados que corroboram a confiança na pertinência do
marco regulatório em discussão.
Evidente que não se cogita quebrar
os contratos firmados sob a égide da
Lei do Petróleo. O novo modelo não
os atingirá. É preciso considerar, contudo, que até o final de 2008, a Petrobras perfurou 30 poços na área do
pré-sal e em outras áreas estratégicas,
e em 87% deles comprovou-se a presença de hidrocarbonetos.
Logo, é indefensável conceber, tanto do ponto de vista administrativo
quanto econômico, que áreas já prospectadas e ainda não licitadas, com
risco exploratório quase nulo e alta
rentabilidade, sejam submetidas ao
mesmo regime aplicado às áreas tradicionais, com alto risco e menor rentabilidade (média de êxito exploratório abaixo de 30%).
É importante ressaltar que o processo de leilões das
áreas do pré-sal foi corretamente suspenso pelo governo em 2007.
O fato é que nova e promissora realidade se impõe ao país.
Em 1996, o
Brasil produzia 800 mil barris de petróleo por dia; hoje, são 2 milhões.
Além das reservas descobertas, fatores externos contribuíram para a
formação desse quadro. Os preços internacionais do petróleo subiram
consideravelmente. O barril, que não
chegava a US$ 20 em 1997, ano da introdução do marco regulatório vigente, hoje está cotado em aproximadamente US$ 65, após o recorde histórico de US$ 140 em 2008. São cenários
profundamente distintos.
Para aumentar a capacidade de gerenciamento desse volume de produção muito maior, a proposta cria uma
estatal enxuta, responsável pela gestão dos contratos, não operando na
exploração, atividade que permanece
a cargo da Petrobras. Trata-se de iniciativa inerente ao regime de partilha.
Alguns setores, naturalmente os
mais favorecidos pelo sistema vigente, resistem a discutir novas regras.
Insistem em que o único modelo viável é o atual, invocando até riscos à
democracia relacionados com a exploração do petróleo. Ora, o Brasil é a
maior nação em desenvolvimento da
América Latina, com instituições e
processos democráticos estáveis e
plenamente reconhecidos.
O regime de partilha da produção
proporciona melhores condições para o cumprimento da missão estratégica que as riquezas nacionais devem
assumir na condução soberana do desenvolvimento do país.
A proposta referenda o compromisso assumido pelo presidente Lula,
não em nome deste governo apenas,
mas do Estado brasileiro, de assegurar o investimento justo e sustentado
dos recursos provenientes dessas reservas no longo prazo.
Com tal preocupação, o Fundo Social permitirá investir em educação,
cultura, sustentabilidade ambiental,
ciência e tecnologia e combater a pobreza, repartindo a prosperidade entre as regiões, promovendo justiça social e federativa, transformando uma
riqueza finita em garantia perene para as futuras gerações de brasileiros.
HENRIQUE FONTANA, 49, médico e administrador de
empresas, é deputado federal (PT-RS) e líder do governo
na Câmara dos Deputados.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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