São Paulo, sábado, 5 de setembro de 1998

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Grito dos excluídos

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

O dia 7 de Setembro será ocasião de vários eventos, que expressam o anseio de vida e esperança. À luz da fé em Deus, o desejo de "mais vida" traduz uma atitude de súplica confiante. Em sintonia com os clamores do salmista, procuremos recordar que ninguém é capaz de "construir a casa" pelas próprias forças. Precisamos de Deus. Sentimos nossa impotência mais ainda, quando se trata de promover a reconciliação, a justiça e a concórdia entre pessoas e grupos. Quem de nós não experimenta a dureza do próprio coração, os ressentimentos que impedem o perdão e incitam à desforra?
Não façamos de nossos gritos, brados e clamores apenas a manifestação de nosso descontentamento pelas injustiças, da indignação frente à apatia dos que se omitem, e denúncia diante das omissões da sociedade e dos que a governam.
Sem dúvida, esses sentimentos são justos e necessários. Mas há algo mais a ser assumido. Trata-se de um exame, diante de Deus, de nosso comportamento pessoal e comunitário, da súplica humilde para que possamos cumprir a palavra de Jesus, "convertei-vos". Todo grito frente às injustiças deve indicar, também, a vontade de superar as causas de tudo que oprime a nós e à sociedade.
Coloquemo-nos, portanto, nessa atitude positiva e sadia de quem deseja corrigir os erros, promover a vida e fazer o bem. Nesse sentido, todo grito é bem-vindo. É sinal e anseio de transformação, de advento de tempos novos. Assim devemos entender o "Grande Jubileu" proclamado por João Paulo 2º: uma clarinada de esperança que convoca para o compromisso na construção da justiça e fraternidade, prova de que o projeto de Deus vai-se realizando nesta terra.
No dia 7 de Setembro, faça-se ouvir um grito uníssono em favor da vida. O Dia da Pátria reafirma o ideal de liberdade para o povo. Hoje, o jugo não é a dominação do colonizador. Há milhões de excluídos que não conseguem exercer a própria cidadania. Neste ano, por iniciativa das pastorais sociais da CNBB, a prioridade é solucionar o problema da fome no país. Daí o símbolo de uma sacola vazia com os dizeres "a ordem é ninguém passar fome"; significa o compromisso de partilha fraterna e de um sistema que coloque a economia a serviço dos benefícios sociais.
A celebração do grito está programada em milhares de cidades do país e associa-se, em Aparecida (SP), à 11ª Romaria dos Trabalhadores, promovida pela Pastoral Operária Nacional e especialmente pelos Estados de São Paulo, Minas, do Espírito Santo e Rio de Janeiro. A peregrinação ao santuário mariano tem por finalidade implorar, pela intercessão de Maria, mãe de Deus e nossa, as graças necessárias para que o Brasil seja a terra de todos, sem exclusão de ninguém. O grito dos operários expressa, também, o sofrimento do desemprego e o anseio de trabalho para todos. Os romeiros são convidados a levar um quilo de alimento para as vítimas da seca no Nordeste.
No mesmo grito precisamos fazer ecoar a situação da família brasileira e as esperanças do 8º Congresso Nacional de Pastoral Familiar, que, nestes dias, de 4 a 6/9, realiza-se no Rio.
Em muitos lugares, o dia 7 será oportunidade de recolher assinaturas para o projeto popular de combate à corrupção eleitoral e garantia de maior liberdade no exercício do voto.
Para que Deus ouça nossos gritos e clamores, peçamos a ele que nos ajude a ver e ouvir o sofrimento dos irmãos e a nos comprometer, de verdade, com a promoção da vida.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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