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Grito dos excluídos
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
O dia 7 de Setembro será ocasião de
vários eventos, que expressam o anseio de vida e esperança. À luz da fé
em Deus, o desejo de "mais vida"
traduz uma atitude de súplica confiante. Em sintonia com os clamores
do salmista, procuremos recordar que
ninguém é capaz de "construir a casa" pelas próprias forças. Precisamos
de Deus. Sentimos nossa impotência
mais ainda, quando se trata de promover a reconciliação, a justiça e a
concórdia entre pessoas e grupos.
Quem de nós não experimenta a dureza do próprio coração, os ressentimentos que impedem o perdão e incitam à desforra?
Não façamos de nossos gritos, brados e clamores apenas a manifestação
de nosso descontentamento pelas injustiças, da indignação frente à apatia
dos que se omitem, e denúncia diante
das omissões da sociedade e dos que a
governam.
Sem dúvida, esses sentimentos são
justos e necessários. Mas há algo mais
a ser assumido. Trata-se de um exame, diante de Deus, de nosso comportamento pessoal e comunitário, da súplica humilde para que possamos
cumprir a palavra de Jesus, "convertei-vos". Todo grito frente às injustiças deve indicar, também, a vontade
de superar as causas de tudo que oprime a nós e à sociedade.
Coloquemo-nos, portanto, nessa
atitude positiva e sadia de quem deseja corrigir os erros, promover a vida e
fazer o bem. Nesse sentido, todo grito
é bem-vindo. É sinal e anseio de transformação, de advento de tempos novos. Assim devemos entender o
"Grande Jubileu" proclamado por
João Paulo 2º: uma clarinada de esperança que convoca para o compromisso na construção da justiça e fraternidade, prova de que o projeto de
Deus vai-se realizando nesta terra.
No dia 7 de Setembro, faça-se ouvir
um grito uníssono em favor da vida. O
Dia da Pátria reafirma o ideal de liberdade para o povo. Hoje, o jugo não é a
dominação do colonizador. Há milhões de excluídos que não conseguem exercer a própria cidadania.
Neste ano, por iniciativa das pastorais
sociais da CNBB, a prioridade é solucionar o problema da fome no país.
Daí o símbolo de uma sacola vazia
com os dizeres "a ordem é ninguém
passar fome"; significa o compromisso de partilha fraterna e de um sistema que coloque a economia a serviço
dos benefícios sociais.
A celebração do grito está programada em milhares de cidades do país
e associa-se, em Aparecida (SP), à 11ª
Romaria dos Trabalhadores, promovida pela Pastoral Operária Nacional e
especialmente pelos Estados de São
Paulo, Minas, do Espírito Santo e Rio
de Janeiro. A peregrinação ao santuário mariano tem por finalidade implorar, pela intercessão de Maria, mãe de
Deus e nossa, as graças necessárias
para que o Brasil seja a terra de todos,
sem exclusão de ninguém. O grito dos
operários expressa, também, o sofrimento do desemprego e o anseio de
trabalho para todos. Os romeiros são
convidados a levar um quilo de alimento para as vítimas da seca no Nordeste.
No mesmo grito precisamos fazer
ecoar a situação da família brasileira e
as esperanças do 8º Congresso Nacional de Pastoral Familiar, que, nestes
dias, de 4 a 6/9, realiza-se no Rio.
Em muitos lugares, o dia 7 será
oportunidade de recolher assinaturas
para o projeto popular de combate à
corrupção eleitoral e garantia de
maior liberdade no exercício do voto.
Para que Deus ouça nossos gritos e
clamores, peçamos a ele que nos ajude
a ver e ouvir o sofrimento dos irmãos
e a nos comprometer, de verdade,
com a promoção da vida.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados
nesta coluna.
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