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AS MORTES NO CINEMA
O assustador episódio dos homicídios em um centro comercial paulistano pareceu, em certo aspecto, se
destacar da rotina de violência. Sugeriu de pronto uma imagem midiática: o crime teria resultado da sugestão de assassinatos desatinados que
não raro aparecem de modo espetacular nos meios de comunicação,
mas costumam ocorrer nos EUA.
O recente caso de um rapaz que
também atirou e matou a esmo na
Alemanha teria reforçado a hipótese
de contaminação pela mídia. Têm sido ademais frequentes debates sobre
o papel de certos filmes e jogos eletrônicos na banalização do tiroteio,
da brutalidade e do assassinato.
Além da estupidez ainda mais insensata dessas mortes no cinema
paulistano, o crime chama a atenção
obviamente também pelo fato ainda
inusual de vítimas e algoz serem de
classe média. É mais comum que pelo menos uma das partes envolvidas
seja pobre e more em periferias ou
partes degradadas da cidade. Em São
Paulo, a taxa de homicídio dos rincões miseráveis é dez vezes maior
que a das regiões mais ricas.
Decerto o crime do estudante de
medicina suscita reflexão sobre o risco de a violência na mídia sugerir
desvarios ou modelos criminosos,
em especial para pessoas psicologicamente frágeis. Mas é também certo
que é difícil discernir motivos determinantes de atos tão desatinados.
O embaraço se torna ainda maior
quando se leva em conta que o ambiente de violência e medo generalizado no mundo real podem ser influências decisivas. A avaliação do caso, porém, seria totalmente equivocada se fossem desconsiderados elementos muito concretos, em favor de
fatores midiáticos e psicológicos.
O estudante de medicina, ao que tudo indica, consumia drogas pesadas.
Estava envolvido com um traficante,
aliás recém-libertado da cadeia, de
quem comprou uma arma poderosa.
Problemas mentais e sugestões da
mídia por si só não provocam morticínios. Mas a pressão das drogas e,
mais ainda, uma metralhadora na
mão, sim. É preciso uma sociedade
deteriorada, em que o narcotráfico se
vulgarizou e o acesso a armas perigosíssimas seja tão facilitado, para que
o crime e a violência, em qualquer
classe ou lugar, prosperem.
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