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CLÓVIS ROSSI
Projetos para a campanha
LONDRES - Duas informações sobre o papel do Estado, ambas aqui
do Reino Unido.
Primeira: investir pesadamente
no sistema público de saúde faz
bem para a saúde do público.
Foi o que fez o governo trabalhista nestes anos em que está no poder. Resultado: o número de cirurgias não emergenciais efetuadas no
sistema privado caiu de 14,6% em
1997 para 10,6% no ano passado,
conforme a "Revista do Mercado de
Atenção à Saúde", que o "Financial
Times" chama de "bíblia da indústria de saúde privada".
Pode parecer óbvio que investir
dá resultados, mas aqui, como no
Brasil, houve momentos (ou ainda
há) em que se aceitava por conformismo ou por convicção que era
inútil pôr dinheiro público em saúde, porque a eficiência do setor privado levaria o público a migrar cada
vez mais para ele.
Tratava-se de uma evidente distorção, que fingia ignorar o fato de
que a grande maioria não pode pagar cirurgias ou tratamento médico
(no Reino Unido, no ano passado,
900 mil pacientes foram tratados
no setor privado, contra 7,7 milhões
dos que foram atendidos pelo NHS,
o National Health Service, sigla que
quase chegou a ter a má fama do
INSS brasileiro).
Segunda informação: o "Financial Times" diz que a rainha vai
anunciar ainda neste mês que
quem não conseguir em 18 meses
tratamento no setor público ganha
o direito de ir a um hospital privado
e o governo paga a conta. Idem para
quem estiver com suspeita de câncer e não for examinado por um especialista em duas semanas.
Dessas anotações surgem duas
dúvidas: se o governo brasileiro
(qualquer que seja) decidir fazer
um investimento maciço nos serviços de saúde, haveria resultados ou
boa parte dos recursos iria para o
ralo? Dois: algum candidato se anima a assumir o compromisso que a
rainha deve anunciar aqui? Se sim,
quantos acreditariam?
crossi@uol.com.br
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