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CARLOS HEITOR CONY
Pé de moleque
RIO DE JANEIRO - Três semanas
na China e no Japão não é tempo
suficiente sequer para uma impressão, mas para quem, em matéria de
oriente, só tinha ido a Niterói (que
fica na parte oriental da baía da
Guanabara), foi bastante para um
certo deslumbramento provinciano, subdesenvolvido.
Não vou deitar a sabedoria que
não tenho em matéria de China, como, aliás, não tenho sabedoria nenhuma sobre nenhum outro assunto. Mas, que diabo, não nasci ontem
e conheço pelo menos quase todo o
mundo ocidental.
Para dizer o menos, a China é um
troço. Um Nordeste que deu certo e
ameaça dar mais certo ainda. Com a
maior população do planeta, crescendo 9% ao ano, adotando um comunismo "light" e um capitalismo
de resultados, a China tem tudo
para se tornar a superpotência do
novo século.
Só um detalhe: a silhueta urbana
de Xangai, por exemplo, coloca a silhueta de Nova York, símbolo da arquitetura vertical que substituiu os
"cinquièmes" europeus do final do
século 19, como uma silhueta datada, século 20. O novo, o surpreendente, é a Xangai, é a Pequim de hoje, não muito longe da Grande Muralha e da Cidade Proibida do milenar passado chinês.
Lembro a marchinha que Lauro
Borges gravou num Carnaval antigo: "Eu já li no leque de um mandarim que pé de moleque já não leva
amendoim". É isso aí. Teremos
muita coisa a ler no leque dos herdeiros dos velhos mandarins, ensinando-nos coisas novas e contrárias ao nosso cartesiano saber ocidental.
Perdoem o tom deslumbrado da
crônica, mas desde criança sou louco por pé de moleque com bastante
amendoim. Não custa esperar que
algum bem-intencionado me ensine a fazer um pé de moleque sem
amendoim.
Estou realmente entrando num
mundo novo e inesperado.
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