São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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INCERTEZA PROLONGADA

Um quadro de elevada incerteza e alta aversão ao risco continua a predominar na economia internacional. Isso mantém o acesso de empresas brasileiras ao crédito externo bastante difícil e constitui a principal razão de a cotação do dólar seguir pressionada no Brasil.
As tensões internacionais são contrastantes. Na Europa, o problema é a dificuldade para retomar um crescimento mais robusto. O PIB dos 12 países que compõem a zona do euro cresceu a um ritmo anualizado de apenas 0,8% no terceiro trimestre deste ano -taxa idêntica à que a Comissão Européia projeta para o ano de 2002. O desemprego na Alemanha chegou, em novembro, ao nível mais alto dos últimos cinco anos. Cresceram as pressões para que o Banco Central Europeu abrande a sua obsessão antiinflacionária e corte os juros em sua reunião de hoje.
Já nos EUA a situação é mais cômoda no curto prazo. O país consegue sustentar um dinamismo razoável. Mas está claro que essa performance tem se devido a políticas muito agressivas de corte da taxa de juros e de aumento do déficit público.
O crescimento dos EUA vem sendo induzido pela política econômica, que busca compensar a retração do investimento privado e evitar que fatores como a queda expressiva nas Bolsas levem os consumidores a uma atitude muito cautelosa. É numa eventual retração abrupta do consumo, responsável por dois terços do PIB dos EUA, que reside o risco de novo mergulho recessivo na "locomotiva" da economia global.
As perspectivas do Brasil neste final de ano e no próximo dependem de maneira crítica da evolução do quadro internacional. Em particular a trajetória da cotação do dólar será função, em larga medida, do grau e da velocidade de uma eventual retomada do acesso ao crédito externo.
A aversão ao risco dos investidores internacionais se mantém excepcionalmente alta desde meados deste ano. Para que o crédito externo volte, será necessário que essa aversão reflua. Mas são grandes os riscos de que não ocorra aceleração do crescimento das economias ricas e de que os investidores continuem muito cautelosos. Nessa hipótese, serão agravadas as dificuldades, no Brasil, para controlar a inflação e preservar algum crescimento.


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