São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

As "soluções de força"

SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da Silva só errou no tempo verbal ao dizer, em Santiago do Chile, que "o agravamento das desigualdades é um convite às soluções de força".
Era, presidente, era. As soluções de força já estão sendo implementadas. Não na forma de golpes militares ou de guerrilha, mas na forma de crime, organizado e desorganizado.
Prova: as mortes violentas no Brasil estão ocorrendo à razão de uma a cada cinco ou seis minutos, conforme números do IBGE analisados por Chico Santos nesta Folha.
Segurança pública é, com certeza, o único setor em que até os melhores amigos de Fernando Henrique Cardoso haverão de reconhecer, se honestos forem, que as coisas pioraram de 1995 para cá.
Evitar que as "soluções de força" continuem se impondo depende de enfrentar tanto a questão policial como a social. E ao mesmo tempo, o que é ainda mais difícil.
Tratar dos dois lados da equação exige mais dinheiro para salários, equipamentos e contratação de pessoal. Ilude-se quem quer acreditar que o problema se resolve à base de racionalização, de gastos mais bem dirigidos e de outras cantigas de ninar da reengenharia. Racionalizar e gastar melhor é necessário, mas não é suficiente nem remotamente.
Agora, olhe-se para o geral da desigualdade, conforme dados do IBGE (para os pobres) e do Banco Central (para os bancos). Tem-se que os 50 maiores bancos que operam no Brasil, inclusive os estatais, lucraram R$ 15,857 bilhões nos primeiros nove meses do ano.
Já os 40% mais pobres ganham por mês a merreca de R$ 150. Para chegar a ter o "lucro" de 50 bancos, 67 milhões de pessoas precisariam trabalhar 980 anos.
Caro presidente eleito, você acha, honestamente, que, com respeito a contratos, a superávit primário tão alto quanto for necessário para a estabilização da dívida e a outras regras do gênero, dá para quebrar o círculo de ferro da desigualdade, velho como o Brasil?


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