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CLÓVIS ROSSI
As "soluções de força"
SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da Silva só errou no tempo verbal ao dizer,
em Santiago do Chile, que "o agravamento das desigualdades é um convite às soluções de força".
Era, presidente, era. As soluções de
força já estão sendo implementadas.
Não na forma de golpes militares ou
de guerrilha, mas na forma de crime,
organizado e desorganizado.
Prova: as mortes violentas no Brasil
estão ocorrendo à razão de uma a cada cinco ou seis minutos, conforme
números do IBGE analisados por
Chico Santos nesta Folha.
Segurança pública é, com certeza, o
único setor em que até os melhores
amigos de Fernando Henrique Cardoso haverão de reconhecer, se honestos forem, que as coisas pioraram
de 1995 para cá.
Evitar que as "soluções de força"
continuem se impondo depende de
enfrentar tanto a questão policial como a social. E ao mesmo tempo, o
que é ainda mais difícil.
Tratar dos dois lados da equação
exige mais dinheiro para salários,
equipamentos e contratação de pessoal. Ilude-se quem quer acreditar
que o problema se resolve à base de
racionalização, de gastos mais bem
dirigidos e de outras cantigas de ninar da reengenharia. Racionalizar e
gastar melhor é necessário, mas não é
suficiente nem remotamente.
Agora, olhe-se para o geral da desigualdade, conforme dados do IBGE
(para os pobres) e do Banco Central
(para os bancos). Tem-se que os 50
maiores bancos que operam no Brasil, inclusive os estatais, lucraram R$
15,857 bilhões nos primeiros nove
meses do ano.
Já os 40% mais pobres ganham por
mês a merreca de R$ 150. Para chegar
a ter o "lucro" de 50 bancos, 67 milhões de pessoas precisariam trabalhar 980 anos.
Caro presidente eleito, você acha,
honestamente, que, com respeito a
contratos, a superávit primário tão
alto quanto for necessário para a estabilização da dívida e a outras regras do gênero, dá para quebrar o círculo de ferro da desigualdade, velho
como o Brasil?
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