São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Os três caminhos da cultura AUGUSTO BOAL
A primeira proposta econômica
de Lula, presidente eleito, foi a de
matar a fome de milhões de brasileiros;
em política internacional, estender a
mão aos argentinos; para o comércio
entre países, propôs o escambo!
Perigo mortal: quando um artista produz arte, responde à sua maneira de sentir, ver e pensar. Quando sua arte se transforma em mercadoria, introduz-se a demanda externa prioritária. A arte, transformada em mercadoria, enfrenta o desafio das prateleiras e os rituais do leilão. O artista responde não mais a si mesmo, mas à demanda do mercado, induzida pela propaganda. A vocação cultural torna-se profissão. Em uma exposição de arte indígena, um dos expositores confessou: "Em nossa aldeia, fazemos estatuetas sem as cores vivas com que pintamos para o mercado paulista -os compradores preferem as coloridas!" Aquele índio era artista, tornou-se artesão: repete modelos. Fazia arte indígena; passou a fazer arte-para-o-branco. As leis do mercado são as leis dos mercadores, assim como a lei da selva é a lei do leão. Um programa com as idéias e os ideais de Lula -que, alegres, compartimos!- deve proteger os artistas profissionais, nesse segundo capítulo, tão importante: a "Cultura como Profissão". No processo globalizador, cultura e arte passam a servir ao mesmo propósito do comércio em geral: o lucro, a propaganda e a despersonalização dos artistas. Quando assistimos a um filme de Hollywood, não é só o enredo que temos que engolir goela abaixo: são os chapéus texanos, o uísque de Kentucky, os carros que explodem em modernas pontes de aço e são jogados ao mar sulcado de jet-skis; são as sirenes policiais e as metralhadoras que serão usadas pelos nossos traficantes, "up-to-date" com inovações bélicas. Um filme vende mais mercadorias do que os anúncios comerciais explícitos. É importante para os globalizantes destruir as culturas nacionais, locais, pois elas são a identidade de quem as produz e, para dominar, é necessário destruir a identidade do dominado. Para lutar pela nossa vida cultural, temos que estudar nosso passado, neste fantástico presente que estamos vivendo, para podermos inventar nosso futuro: eis a terceira vertente de um inovador plano cultural: a "Cultura como Memória do Passado e como Invenção do Futuro". Cultura não é luxo: sou eu, é você, é o Lula! É o povo na praça. "A praça que é do povo, como o céu é do condor!" -já dizia o poeta Castro Alves! Augusto Boal, 70, diretor de teatro e dramaturgo, dirige o Centro de Teatro do Oprimido (RJ) Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Luiz Carlos Costa: O Plano Diretor em novas encruzilhadas Índice |
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