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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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INFLAÇÃO E RETOMADA

A inflação encontra-se bastante bem-comportada, e uma das principais razões para isso é a debilidade da demanda interna. Desde maio, quando a taxa de juros básica, a Selic, se encontrava em elevadíssimos 26,5%, a avaliação de que a retração da renda e do consumo tenderiam a manter os índices de preços sob controle já aparecia em análises econômicas. Imaginava-se, naquela época, que nos meses finais do ano o quadro precisaria ser matizado: alguns supunham que já estaria em curso uma nítida retomada da demanda interna, que poderia gerar alguma pressão inflacionária.
Não é o que se está verificando de acordo com indicadores divulgados nos últimos dias. Por exemplo, o Índice de Preços ao Consumidor da cidade de São Paulo, calculado pela Fundação Getúlio Vargas, apurou em novembro inflação de apenas 0,05%. Se não tivesse ocorrido um aumento de 68% no custo da loteria, haveria deflação de 0,10%. Também o IPC-Fipe apresentou alta de apenas 0,27% em novembro, abaixo do que se esperava há algumas semanas.
Ao lado disso, pesquisas ainda apontam desgaste do poder de compra dos trabalhadores e vendas ainda fracas no comércio, a despeito de um reaquecimento incipiente em ramos específicos, especialmente no de bens de consumo duráveis.
Parecem estimular essa recuperação a redução da taxa básica de juros, que favoreceu o início de uma reativação das operações de crédito (após prolongado período de contração), e medidas de política econômica de alcance pontual, como a redução do IPI sobre os automóveis. A prorrogação até fevereiro dessa medida -que deveria ter sido extinta no fim de novembro- denota que as autoridades, apesar de alguns sinais positivos recentes, como a melhoria nos investimentos, reconheceram implicitamente a debilidade da retomada da atividade econômica em curso.
Parece claro que, para reforçar a confiança num robustecimento da recuperação, será preciso reduzir mais os juros. O bom comportamento da inflação e o fraco consumo atestam que novos cortes são não apenas factíveis como imperiosos.


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