São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005

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CICATRIZ DEMOGRÁFICA

Os dados do IBGE sobre mortalidade divulgados na semana passada indicam que a violência está diminuindo significativamente a esperança de vida masculina no Brasil. As mulheres vivem em média 7,6 anos mais do que os homens. Enquanto a esperança de vida do brasileiro nascido em 2004 é de 67,9 anos, a da brasileira é de 75,5 anos. Em 1980, a diferença era de 6,1 anos. Essa é, até certo ponto, uma tendência natural. Mulheres têm vida mais longa que homens, e essa propensão é acentuada em países ricos.
De acordo com a ONU, na média das regiões mais desenvolvidas, a mulher vive 7,5 anos mais do que os homens. Nas regiões mais pobres, a diferença é de apenas, 3,1 anos. Esse fenômeno tem muitas causas, mas uma das mais importantes é o fato de que doenças típicas da pobreza (como as infecto-parasitárias) matam de modo mais ou menos igual homens e mulheres. Já as principais causas de morte nos países ricos (moléstias do coração, cânceres) afetam mais a população masculina.
O problema do Brasil é que a diferença em favor das mulheres ocorre em larga medida por causa da violência. Na faixa etária dos 20 aos 24 anos, por exemplo, a mortalidade masculina é quatro vezes maior do que a feminina. Em 1980, essa relação era de dois para um. A principal razão para isso está nas chamadas mortes por causas externas, que são homicídios, acidentes de trânsito, suicídios, afogamentos etc.
É verdade que a situação já foi pior. Em 2000 e em 2001, a diferença entre os sexos chegou a 7,7 anos. O Brasil vem obtendo progressos, inclusive em relação aos homicídios. Mas eles são insuficientes. Entre 1980 e 2004, a taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu mais de 60%, enquanto na faixa etária dos 15 a 39 anos, a redução, em média, não alcançou os 30%.
Normalmente, são eventos extraordinários como guerras que levam a grandes desproporções entre os sexos nos grupos jovens. O Brasil não está em guerra, embora já exiba esse tipo de desequilíbrio, que especialistas chamam de cicatriz demográfica.

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