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CICATRIZ DEMOGRÁFICA
Os dados do IBGE sobre mortalidade divulgados na semana
passada indicam que a violência está
diminuindo significativamente a esperança de vida masculina no Brasil.
As mulheres vivem em média 7,6
anos mais do que os homens. Enquanto a esperança de vida do brasileiro nascido em 2004 é de 67,9 anos,
a da brasileira é de 75,5 anos. Em
1980, a diferença era de 6,1 anos. Essa
é, até certo ponto, uma tendência natural. Mulheres têm vida mais longa
que homens, e essa propensão é
acentuada em países ricos.
De acordo com a ONU, na média
das regiões mais desenvolvidas, a
mulher vive 7,5 anos mais do que os
homens. Nas regiões mais pobres, a
diferença é de apenas, 3,1 anos. Esse
fenômeno tem muitas causas, mas
uma das mais importantes é o fato de
que doenças típicas da pobreza (como as infecto-parasitárias) matam
de modo mais ou menos igual homens e mulheres. Já as principais
causas de morte nos países ricos
(moléstias do coração, cânceres) afetam mais a população masculina.
O problema do Brasil é que a diferença em favor das mulheres ocorre
em larga medida por causa da violência. Na faixa etária dos 20 aos 24
anos, por exemplo, a mortalidade
masculina é quatro vezes maior do
que a feminina. Em 1980, essa relação era de dois para um. A principal
razão para isso está nas chamadas
mortes por causas externas, que são
homicídios, acidentes de trânsito,
suicídios, afogamentos etc.
É verdade que a situação já foi pior.
Em 2000 e em 2001, a diferença entre
os sexos chegou a 7,7 anos. O Brasil
vem obtendo progressos, inclusive
em relação aos homicídios. Mas eles
são insuficientes. Entre 1980 e 2004, a
taxa de mortalidade infantil no Brasil
caiu mais de 60%, enquanto na faixa
etária dos 15 a 39 anos, a redução, em
média, não alcançou os 30%.
Normalmente, são eventos extraordinários como guerras que levam a
grandes desproporções entre os sexos nos grupos jovens. O Brasil não
está em guerra, embora já exiba esse
tipo de desequilíbrio, que especialistas chamam de cicatriz demográfica.
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