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JOSÉ SARNEY
Quem tem medo de Hillary
O
LÍDER , ao contrário do que
parece ao senso comum,
não é aquele que é movido
pelo verbo mandar. Ser líder é muito mais a capacidade de coordenar
do que a de impor sua vontade, como o iluminado que determina caminhos. A função de liderar implica ter ouvidos abertos e ouvir sempre, e mais, falar o necessário e
buscar a unidade para agir. É certo
que a unidade não é clone da unanimidade, mas opiniões, quaisquer
que sejam, não devem ser desprezadas. O marquês de Pombal, o iluminista que transformou Portugal
como ministro de dom José 1º,
quando indicou seu sobrinho, Melo e Póvoas, para governar a Província de São José do Rio Negro,
depois chamada de Amazonas, ao
transferi-lo para o Maranhão, escreveu-lhe uma carta sobre a arte
de governar.
São ensinamentos de bom senso
que valorizam o ato de mandar, que
ele considera muito mais uma tarefa de compor consensos do que de
usar da força. Dizia ele que quem
governa tem que ter dois ouvidos,
um para ouvir o ausente, e outro, o
presente. Que o governante deveria ter espinhos nos ouvidos, para
que as coisas não entrassem de
uma vez só, ficassem espetadas para serem mais bem analisadas.
Na minha experiência de vida,
muitas vezes tive oportunidade de
comandar, mas sempre me vali da
prudência, da paciência, da busca
da conciliação e do recolhimento
de opiniões.
Estas considerações estão sendo
feitas pela decisão de Barack Obama de constituir um "dream team",
sem o medo de dividir suas responsabilidades com grandes e experimentadas figuras. Nesses casos, a
sedução é nivelar por baixo, e este é
o caminho mais curto para decepções e fracassos. Obama mostra
que tem não só o carisma mas a coragem e a certeza de sua estrutura
sem receios de comandar comandantes. É um bom sinal e também
a constatação de que tem segurança pessoal, talento e não sofre de
complexos.
Opiniões fortes e defesas veementes de idéias nunca prejudicam o ato de decidir e mostram que
essas opiniões são úteis e dão segurança sobre o caráter de quem opina. A subserviência é o maior perigo para chegar-se a uma decisão,
que tem muito de uma construção
coletiva. Quanto mais complexas
as decisões, mais necessário é ter
independência e competência da
equipe.
Os que com ele vão trabalhar sabem que têm um líder respaldado
por uma consagração popular e dono de sua missão. Nada de pensar
em vira-lata: líder é líder e, se não
for, com os ventos do pessimismo
que sopram no mundo todo, estamos num beco sem saída.
Se alguém tem medo da personalidade forte de Hillary Clinton, não
parece ser Barack Obama.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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