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Cartão de visita
Medidas anunciadas pelo BC restringem crédito e tentam mitigar aumento dos juros, em estratégia vista com desconfiança pelo mercado
O Banco Central anunciou na
manhã de sexta-feira medidas que
vão restringir a oferta de financiamentos e encarecer o custo do dinheiro. Ao expor brevemente seus
motivos, a autoridade monetária
deu ênfase ao aspecto "macroprudencial" de suas determinações
ao sistema bancário. Isto é, o BC
pretendeu transmitir a ideia de
que sua prioridade é evitar o aumento excessivo do crédito ao
consumidor final de bens duráveis, em especial de automóveis.
Deixou em segundo plano o
anúncio de que a iniciativa também visava a "retirada gradual
dos incentivos introduzidos para
minimizar os efeitos da crise" de
2008. Ou seja, o aumento da
quantidade de dinheiro disponível nos bancos.
Poucos observadores da política monetária deram ouvidos à ordem das razões do BC. Economistas e a praça financeira consideraram que a ação teria o caráter de
uma medida não muito ortodoxa
de enxugamento de moeda com o
objetivo de esfriar o mercado de
crédito, o consumo e, dessa forma, a inflação.
Em suma, o BC determinou que
os bancos recolham e deixem imobilizada uma parcela maior dos recursos que captam no mercado
-e passou a exigir mais capital
nas operações de crédito para pessoas físicas. Na prática, as taxas
de juros subirão, os prazos de financiamento serão reduzidos e os
financiadores de veículos exigirão
entradas maiores.
São medidas prudentes, mas,
num período de recrudescimento
da inflação, provocaram a impressão de que a autoridade monetária estaria menos disposta a recorrer ao caminho tradicional de conter a alta de preços por meio da política de aumento da taxa de juros
de curto prazo e da coordenação
das expectativas de mercado.
O BC teria, nessa visão, lançado
mão de um instrumento menos
preciso, de efeitos menos testados
ou mesmo "heterodoxo", na visão
de alguns economistas. Para esses
observadores mais radicais, a autoridade monetária "empurraria
com a barriga" a decisão de elevar
a taxa básica de juros, a Selic, no
curto prazo sempre mais custosa e
politicamente mais controversa.
Para os economistas considerados ortodoxos, essa estratégia se
revelará, no médio e longo prazos,
mais custosa, pois solapa a credibilidade do BC e mina sua capacidade de levar o mercado a acreditar que a inflação retrocederá.
Considera-se agora mais improvável que a autoridade monetária
eleve a Selic já na próxima semana. Alguns analistas passaram
mesmo a reduzir suas estimativas
de alta dos juros para 2011.
O BC, já praticamente sob nova
administração, parece ter anunciado sua primeira carta de intenções. Neste momento, apesar de
todas as reivindicações do "mercado" e das considerações de economistas, parece impossível afirmar quão bem-sucedido será esse
enfoque gradual e pouco ortodoxo. O teste do pudim ainda será
comê-lo: verificar se a inflação
volta à meta ou não. Caso a nova
receita do BC desande, o início da
gestão da equipe econômica de
Dilma Rousseff não terá como evitar um sabor amargo.
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