São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2010

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FERNANDO CANZIAN

Luta de classes 2.0

SÃO PAULO - O Brasil é um dos únicos países do mundo onde quartos de empregada ainda constam da planta de apartamentos novos.
Basta examinar a Folha de hoje. Apesar de proporcionalmente exíguos na comparação com a metragem total dos imóveis, esses espaços estão e ficarão cada vez mais difíceis de ser preenchidos.
Péssima notícia para a chamada classe B, ótima para os antigos "serviçais" e um desafio de proporções consideráveis à produção, à infraestrutura urbana e à qualidade dos serviços no Brasil pós-Lula.
Para os realmente ricos, isso custará só um naco a mais. Mas, para os hoje espremidos entre eles e as emergentes classes D/E e C, o preço (ainda incalculável) será salgado.
A expressão "esse aeroporto parece uma rodoviária" talvez explicite como nenhuma outra o mau humor do segmento que mais tem a "perder" com a transformação social em curso no país.
Pelo critério do Datafolha, cerca de 3 milhões de brasileiros (1,5% do total) vivem em famílias com renda mensal superior a R$ 10.201. Já os menos favorecidos (renda familiar até R$ 2.550) são 158 milhões (83%). Sendo que mais da metade deles vive ainda pior, com renda familiar abaixo de R$ 1.020.
Espremidos entre os mais pobres embaixo e os ricos por cima, sobram cerca de 30 milhões de brasileiros (15% do total) em famílias que atravessam o mês com renda entre R$ 2.551 e R$ 10.200. (Alguém aí se identifica com isso?)
Esse segmento, considerado aqui classe B, depende do andar de baixo em diversos aspectos, muitos voltados exatamente para a expansão de sua renda presente e futura: via babás, domésticas e outros serviços pessoais que os liberam para trabalhar e/ou se aperfeiçoar.
Em um país ainda muito pobre, mas cada vez mais emergente, esses serviços existirão por muito tempo ainda. Assim como o desconforto e os preços cada vez maiores para quem quiser comprá-los.


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