São Paulo, sábado, 5 de dezembro de 1998

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GRAMPOS E IMPUNIDADE

Afastados do governo os funcionários públicos flagrados por grampos telefônicos, começa a se notar certo esvaziamento de um episódio em que estiveram imbricados atos criminosos, chantagens de ordem vária e disputas pelo poder na coalizão governista. Seria no entanto lamentável que o país deixasse mais uma vez de esclarecer um caso dessa gravidade, no qual foi envolvida, na condição de vítima de uma escuta ilegal, até a mais alta autoridade da República, Fernando Henrique Cardoso.
Passado o primeiro impacto da crise que se instalou no centro nevrálgico do governo, é preciso distinguir alguns de seus aspectos, o que infelizmente não se verificou durante o furacão dos acontecimentos.
O teor das fitas que vieram a público expôs conversas de algumas das mais altas autoridades públicas em pouca conformidade com o padrão tradicional da atuação de funcionários do Estado. Não há, porém, por ora, nenhum indício de favorecimento pessoal ou de ato que viesse lesar o patrimônio público. Pelo contrário, o resultado do leilão das teles indica que a operação de venda foi exitosa e atendeu os interesses do país.
Resta no entanto esclarecer a autoria dos grampos, atos sabidamente criminosos e que serviram de origem a intrigas políticas, se não também comerciais. O país não pode ficar à mercê de delinquentes. É inaceitável que permaneçam anônimos e impunes os bandidos, os mandantes dessa operação e os que dela tentaram se beneficiar direta e conscientemente.
Não se deve neste momento poupar esforços para que as investigações da Polícia Federal, bem como o trabalho do Ministério Público, cheguem até os culpados. Não apenas para que sejam punidos com rigor, mas também para que tais atos torpes de bandidagem sejam desencorajados de uma vez por todas. O eventual fracasso na identificação dos criminosos do grampo pode custar caro demais para o futuro do país.



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