São Paulo, quinta, 6 de fevereiro de 1997.

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PAZ RELATIVA

Depois de ter sido pressionado de diversas formas pelos partidos que o apóiam no Congresso, o que o levou a rever por mais de uma vez sua estratégia para aprovar a emenda que prevê o direito à reeleição para o Executivo, Fernando Henrique Cardoso conseguiu ontem fechar a série de vitórias de que precisava para reorganizar sua base parlamentar.
A eleição do deputado Michel Temer (PMDB-SP) para a presidência da Câmara, além de proporcionar um provisório apaziguamento entre PFL e PMDB, garante a FHC uma significativa influência sobre a Casa. Mais do que um aliado, Temer mostrou-se, durante as intrincadas negociações políticas das últimas semanas, um dos mais ferrenhos defensores dos interesses do Executivo.
Para o presidente da República, o peemedebista era sem dúvida o candidato mais adequado entre os três que disputavam o cargo. Se ficasse ausente da presidência das duas Casas do Congresso, o PMDB poderia reagir contra o Palácio do Planalto e comprometer a aprovação da emenda da reeleição nas suas próximas etapas -segundo turno na Câmara e duas votações no Senado.
Fernando Henrique Cardoso une assim dois fatores positivos para esta segunda metade de seu mandato: tem a perspectiva do direito de disputar a reeleição e conta com o apoio (ao menos formal) das presidências do Congresso. Trata-se de um quadro em princípio confortável, com o qual poucos chefes de governo brasileiros chegaram a contar.
Fica uma grande interrogação quanto à independência que o Parlamento conseguirá impor diante de um Executivo fortalecido. Os debates decorrentes das disputas na Câmara e no Senado pecaram por não terem privilegiado temas realmente relevantes, como o ritmo de aprovação das reformas do Estado ou o comportamento do Legislativo federal diante da avalanche de medidas provisórias imposta por FHC.
No Senado, Antonio Carlos Magalhães ainda é uma incógnita. Mas Michel Temer, exceto diante de um grande imprevisto político, deverá manter-se aliado ao governo. Se para o presidente essa paz relativa é inicialmente satisfatória, seus efeitos para o país ainda são imprevisíveis.

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