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DIPLOMACIA DE GUERRA
O discurso de ontem do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, diante do Conselho de Segurança da ONU, em que
pese a pirotécnica exibição de fotos,
vídeos e gravações, não trouxe novos
elementos que justifiquem fazer a
guerra contra o Iraque.
O que o general Powell mostrou foi
uma série de provas circunstanciais
de que o Iraque não vem cumprindo
a resolução 1.441 da ONU, que determina que Bagdá se desarme e colabore com os inspetores de armas, ou
enfrente "graves consequências".
Em nenhum lugar, porém, está escrito que o descumprimento da 1.441
significa necessariamente a guerra.
Não há dúvida de que Saddam
Hussein é um tirano sanguinário. E
ninguém que não seja demasiadamente ingênuo deve acreditar que ele
de fato inutilizou todo o armamento
de destruição em massa de que o Iraque comprovadamente dispunha até
poucos anos atrás.
O fato, concreto, é que Powell não
demonstrou que Saddam Hussein é
uma ameaça real e iminente à ordem
mundial que precise ser contida por
uma guerra já. Na verdade, Bagdá
não constitui, hoje, uma ameaça
maior ao mundo do que representava 12 anos atrás, quando George
Bush pai desistiu de derrubar Saddam ao final da Guerra do Golfo, ou
em 1988, quando os EUA ofereciam
apoio logístico ao ditador, que lançava armas químicas contra seus inimigos iranianos, mas também contra
seu próprio povo.
A questão fundamental é se o fato
de Saddam possuir armas proibidas-que, aliás, fazem parte dos arsenais de diversos países- justifica
ou não uma guerra para removê-lo
do poder. Trocando em miúdos, o
que se discute no Conselho de Segurança da ONU é se a comunidade internacional está ou não disposta a
conceder aos EUA licença para agirem, a um só tempo, como polícia,
juiz e carrasco do mundo. A resposta
só pode ser um veemente "não".
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