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São Paulo, quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003

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DIPLOMACIA DE GUERRA

O discurso de ontem do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, diante do Conselho de Segurança da ONU, em que pese a pirotécnica exibição de fotos, vídeos e gravações, não trouxe novos elementos que justifiquem fazer a guerra contra o Iraque.
O que o general Powell mostrou foi uma série de provas circunstanciais de que o Iraque não vem cumprindo a resolução 1.441 da ONU, que determina que Bagdá se desarme e colabore com os inspetores de armas, ou enfrente "graves consequências". Em nenhum lugar, porém, está escrito que o descumprimento da 1.441 significa necessariamente a guerra.
Não há dúvida de que Saddam Hussein é um tirano sanguinário. E ninguém que não seja demasiadamente ingênuo deve acreditar que ele de fato inutilizou todo o armamento de destruição em massa de que o Iraque comprovadamente dispunha até poucos anos atrás.
O fato, concreto, é que Powell não demonstrou que Saddam Hussein é uma ameaça real e iminente à ordem mundial que precise ser contida por uma guerra já. Na verdade, Bagdá não constitui, hoje, uma ameaça maior ao mundo do que representava 12 anos atrás, quando George Bush pai desistiu de derrubar Saddam ao final da Guerra do Golfo, ou em 1988, quando os EUA ofereciam apoio logístico ao ditador, que lançava armas químicas contra seus inimigos iranianos, mas também contra seu próprio povo.
A questão fundamental é se o fato de Saddam possuir armas proibidas-que, aliás, fazem parte dos arsenais de diversos países- justifica ou não uma guerra para removê-lo do poder. Trocando em miúdos, o que se discute no Conselho de Segurança da ONU é se a comunidade internacional está ou não disposta a conceder aos EUA licença para agirem, a um só tempo, como polícia, juiz e carrasco do mundo. A resposta só pode ser um veemente "não".


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