|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
É positiva a proposta do Ministério do Trabalho
que regulariza a terceirização da mão de obra?
NÃO
O avanço do retrocesso
VANDER MORALES
CAUSOU INDIGNAÇÃO o projeto
de lei do Ministério do Trabalho que pretende dispor sobre
os contratos de serviços terceirizados. A repulsa é legítima. Caso prospere, o projeto retrocede as relações de trabalho no país a práticas ultrapassadas há pelo menos 50 anos.
O projeto simplesmente inviabiliza
a atividade das empresas prestadoras
de serviços terceirizados. E trará como consequência queda brutal na
competitividade das empresas que
demandam esses serviços em relação aos concorrentes mundiais. O texto é claramente corporativista. No projeto, obriga-se que a remuneração do terceirizado siga convenção ou acordo coletivo de trabalho celebrados entre empresa tomadora de
serviços e sindicato da categoria profissional preponderante. E vai além
ao exigir que, caso essa remuneração
seja menor, a empresa prestadora de
serviços complementará a diferença, sob a forma de abono.
O retrocesso prossegue: veda a contratação de serviços em atividades
fins. A discussão é arcaica. Quem,
com clareza, pode no mundo de hoje
distinguir o que é atividade fim de atividade meio em uma empresa? Mais
surreal é o dispositivo que ordena comunicação ao sindicato da categoria
profissional preponderante, com antecedência de 120 dias, da intenção de
contratar prestadores. E lista exigências que deixam evidente a intenção
de inviabilizar os contratos.
Na dinâmica atual dos processos de
produção, 120 dias é período próximo
de uma eternidade. Basta imaginar o
que ocorreu no ano passado, quando a
crise exigiu agilidade na redução das
atividades e, a seguir, a retomada da produção.
Ao contrário do que mistificam
seus detratores, a terceirização séria não precariza: é trabalho formal como qualquer outro.
No Brasil, a grande maioria das prestadoras de serviços cumpre as obrigações previstas na CLT, expondo-se assim à concorrência desleal de sonegadores.
O país tem hoje mais de 100 mil empresas de serviços terceirizados, empregando mais de 8 milhões de trabalhadores. Desse total, mais de 30 mil
integram a maior entidade do segmento, a Asserttem, e o sindicato com
a mais alta representatividade, o Sindeprestem. Apenas elas empregam
cerca de 3 milhões trabalhadores, pagando salários que ultrapassaram R$
26 bilhões em 2009.
Essas empresas especializam funcionários para atender demandas crescentes e inovadoras do mercado.
Daí sua contribuição para o aumento
da produtividade e da competitividade. Com isso, aumentam a empregabilidade dos trabalhadores, especialmente no primeiro emprego de jovens ou nas mudanças de carreira dos
mais maduros.
Com um faturamento de cerca de R$ 40 bilhões no ano passado, as empresas representadas pelo sindicato e
pela entidade recolheram perto de R$
4,5 bilhões só em INSS e FGTS, números suficientes para desmistificar
a balela de que as empresas prestadoras de serviços precarizam o trabalho.
As prestadoras transformaram a
terceirização em realidade irreversível, em sintonia com as nações desenvolvidas. Isso está em risco caso prevaleça o projeto do governo. As centrais sindicais e o governo não se furtarão ao debate sério para impedir o
retrocesso. Dificilmente empresas do
exterior com interesse em investir no
Brasil concretizarão suas intenções
caso a inviabilidade de terceirização
no Brasil se transmute em letra de lei.
Aliás, há mais de 11 anos está em discussão no Congresso o projeto
4.302/98, objeto de exaustivos debates e muito consenso.
Acredito que a iniciativa de propor unilateralmente um projeto com implicações tão nefastas pode se transformar em oportunidade para inaugurar nova fase nas relações de trabalho, mais condizente com as exigências do mundo contemporâneo.
VANDER MORALES é presidente da Asserttem (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis
e de Trabalho Temporário) e do Sindeprestem (Sindicato
das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação e Administração de Mão de Obra e de Trabalho Temporário no Estado de São Paulo).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Luciano Athayde Chaves: Contra a precarização do trabalho Próximo Texto: Painel do Leitor Índice
|