São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011

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FÁBIO SEIXAS

Talvez

Há exatos cinco meses, em 6 de setembro, o secretário-geral da Fifa chegava ao Brasil para decidir sobre a inclusão do Itaquerão na Copa de 2014.
Caso tenha ligado a TV do hotel, Jerôme Valcke viu imagens do acontecimento esportivo da véspera: o adeus do Maracanã, num Flamengo x Santos com 43.350 torcedores.
Saiam os jogadores para entrar os operários, quase dá para ouvir o "Suderj informa".
O francês decidiu. Provavelmente viu. Falou, falou, falou, como sempre. Embarcou para o aconchego do escritório nas colinas de Zurique. De lá para cá, não regressou ao país.
E caso retornasse hoje, para curtir um dia mais ensolarado do que aquela segunda-feira chocha de inverno, ficaria surpreso. Pelo que não foi feito.
Pelos cinco meses perdidos.
Pela confusão armada, muito maior agora -até porque o prazo é mais escasso.
Em Itaquera, tudo o que fizeram foi limpar o terreno.
Nunca houve o anúncio da parceria que pagará (será?) os 12 mil lugares a mais exigidos para a partida de abertura.
O Corinthians tampouco fechou acordo de "naming rights". E, convenhamos, além de essa tendência não ter pegado por aqui, que empresa acreditará que o torcedor abraçaria sua marca em vez de "Itaquerão"? Ou "Fielzão"?
Na sexta-feira, esta Folha revelou que o projeto é o recordista de ressalvas em relatório da Fifa e do Comitê Organizador Local sobre a situação dos estádios para o Mundial: 109.
O Morumbi, descartado porque o presidente da CBF não se entende com o presidente do São Paulo, recebeu 30 críticas na primeira avaliação...
No Maracanã, o cenário só é um pouco melhor porque já há, de fato, operários trabalhando. Parte das arquibancadas foi ao chão. Mas o Ministério Público Federal investiga suspeitas de irregularidades na licitação, além de problemas na elaboração do projeto.
Tem mais: problemas estruturais na cobertura do estádio não detectados antes do processo licitatório, vejam que graça, podem encarecer a obra em mais R$ 275 milhões.
Mas talvez a premissa do quarto parágrafo esteja errada. Talvez Valcke não se surpreenda. Talvez o francês e seus colegas de Fifa estivessem esperando por isso.
Talvez não seja coincidência terem dado uma Copa para o Brasil após os problemas nas obras da África do Sul, com direito a torneira aberta dos cofres do governo para saná-los.
Talvez as belezas do Rio não tenham sido o grande argumento para que o COI trouxesse a Olimpíada para cá. Talvez a boa vontade governamental e a experiência do derramamento de dinheiro público na preparação para o Pan-Americano de 2007 não tenham passado despercebidas pelos cartolas europeus. Talvez, para eles, quanto pior, melhor.
Por ora, são só talvez...

FÁBIO SEIXAS é editor-adjunto de Mundo


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