São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2001

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CLÓVIS ROSSI

É tudo, menos pilhéria

SÃO PAULO - O presidente do Senado, Jader Barbalho, está completamente equivocado ao considerar "pilhéria" as acusações do senador Antonio Carlos Magalhães.
ACM pode ter os motivos mais torpes para a sua campanha, a sua credibilidade para fazer denúncias tende a zero, mas nem por isso é lícito ignorá-las.
Como tampouco é lícito ignorar o fato de que há, sobre o próprio senador, a suspeita, entre outras, de que violou ou permitiu que fosse violado o segredo da votação que cassou o mandato de Luiz Estevão.
Em ambos os casos, o lógico seria apurar, apurar e apurar. Não importa que os interesses do governo sejam eventualmente afetados no caso de as denúncias de ACM não serem vazias. Nem importa que ao governo interessa agora enfraquecer ACM e, portanto, estimular a investigação sobre a violação do voto.
Tudo deveria ser devidamente passado a limpo, se Boris Casoy me permite o empréstimo de seu bordão.
Sou capaz de apostar, no entanto, que acontecerá exatamente o contrário. O governo já se mostrou perito na arte de abafar escândalos, ou ameaças de escândalos, com uma baita contribuição de ACM, o que a brigada "carlista" na mídia procura omitir.
Além disso, tanto o senador como o próprio governo têm rabo de palha em mais de um dos episódios que ACM agora usa para atacar. Exemplo: a ARO (Antecipação de Receita Orçamentária) que beneficiou a prefeitura Pitta só foi autorizada por pressão de ACM (e de Gilberto Miranda). Quem é mais culpado: o governo que cedeu a pressão ou quem fez a pressão? Para mim, ambos.
Afinal, não há como esquecer que ACM, FHC e Jader foram aliados durante seis anos. Pode-se fazer um gigantesco esforço para omitir esse dado, mas não há como escapar do óbvio: se pecados há, pecaram juntos, por ação ou omissão.


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