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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A quem iremos?
Amamos a vida e desejamos ser felizes. É o anseio comum da humanidade. Aprendemos a descobrir a
beleza da criação divina e as conquistas da inteligência e da bondade humana ao longo dos séculos.
Estamos, no entanto, mergulhados
numa realidade em que os aspectos
positivos encontram-se misturados
com fatores que asfixiam as alegrias
da vida e causam angústia e tristeza.
O primeiro motivo da infelicidade é
a falta do necessário à sobrevivência,
acarretando a fome, a doença e abreviando os anos da vida. A situação torna-se mais dramática pela injustiça na
distribuição dos bens da terra.
À miséria alia-se a violência com todas as formas de agressão à pessoa.
Pensemos nos assaltos, seqüestros,
guerras e atos de terrorismo que lesam
a segurança mesmo dos que se acham
mais defendidos.
O terceiro fator de padecimentos são
as segregações, divisões e a enorme
quantidade de vítimas do ódio, da exclusão social e de tantas rupturas no
seio da humanidade por razões étnicas, de diversidade de cultura e discordância religiosa.
Considero ainda mais grave a condição de quem não alcança ou perde o
sentido da vida e cede ao descontrole
da bebida, do prazer desordenado e ao
desperdício do tempo e das próprias
energias. Há um vazio ontológico pela
falta de discernimento dos verdadeiros valores e pela solidão profunda de
quem não se abre à presença e ao
amor de Deus.
A constatação desses fatores que
roubam à pessoa a alegria de viver faz-nos compreender a profissão de fé do
apóstolo Pedro diante de Jesus. O
Mestre havia multiplicado o pão para
5.000 pessoas e prometido a vida eterna. Jesus oferecia como alimento o
próprio corpo, numa alusão clara do
evento futuro da última ceia. Alguns
não entenderam essas palavras e afastaram-se do Mestre. É nesse contexto
que Jesus Cristo pergunta aos apóstolos se também eles querem se separar
dele. A resposta de Simão Pedro em
nome dos companheiros é belíssima.
"Senhor, a quem iremos? Só vós tende
palavras de vida eterna" (Jo, 6, 68).
Revivendo essa mesma fé em Cristo,
a CNBB lançou neste ano, para todo o
Brasil, o novo projeto de evangelização: "Queremos ver Jesus, caminho,
verdade e vida". Eis aí a luz para nossa
existência. Diante dos impasses e desafios, da injustiça, da violência, da segregação e da perda do sentido da vida, voltamos o olhar para Cristo e repetimos, ainda hoje, a pergunta de Pedro: a quem iremos?
O ensinamento de Jesus dissipa as
trevas e dúvidas e anuncia a boa nova,
valores, critérios e atitudes que dão
pleno sentido à vida. A injustiça será
vencida pelo reconhecimento da dignidade da pessoa à luz de Deus, convertendo-nos à convivência fraterna e
à partilha. O perdão do Evangelho é a
única resposta definitiva contra a violência e inicia um processo de apreço,
respeito e diálogo, superando toda exclusão social e aproximando uns dos
outros, como irmãos e irmãs, na concórdia e na paz.
A luz de Cristo penetra mais fundo e
nos ajuda a abrir o coração e discernir
a presença de Deus que nos ama como
Pai, perdoa e santifica. Nasce em nós a
confiança filial que assegura a esperança da vida plena e feliz. E há de
crescer, então, sempre mais forte, a
alegria do mandamento do amor de
quem aprende a passar a vida como
Jesus, fazendo o bem. "A quem iremos? Senhor, só Vós tendes palavras
de vida eterna."
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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