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ELIANE CANTANHÊDE
Guerra Fria e Quente
BRASÍLIA - Vinte anos depois da
queda do Muro de Berlim e seis
após Lula renegar o Foro de São
Paulo para aderir ao neoliberalismo
que condenava nos tucanos, a América Latina ainda vive a Guerra Fria.
Estamos levemente atrasados, convenhamos. E a brincadeira começa
a ficar perigosa.
Na conversa que tive ontem com
o presidente do Equador, Rafael
Correa, ele não só repetiu que estava disposto a chegar "às últimas
conseqüências", como vinha insistindo, mas foi adiante: "não excluo a
hipótese de guerra", disse.
A impressão é que algo não caminhou bem na conversa com Lula,
pela manhã, no Planalto. A intensão
de Lula era serenar os ânimos, mas
Correa entrou e saiu atirando.
Também negou o pedido do presidente brasileiro para se encontrar
com o inimigo Álvaro Uribe, da Colômbia, não aceitou restringir o
conflito a uma questão só bilateral e
ainda por cima recusou o papel de
intermediário do Brasil.
O discurso de Correa está muito
mais para Hugo Chávez do que para
Lula da Silva, que, aliás, não deu as
caras para tirar fotos ao lado do
equatoriano. A prevista entrevista
coletiva de Correa virou um pronunciamento sem direito a perguntas, e quem o acompanhou no Planalto -em silêncio- foi o chanceler Celso Amorim.
Falar em distensão, em serenar
os ânimos, todas essas coisas, está
ficando bastante difícil. Até porque,
na Guerra Fria extemporânea e levemente ridícula da América Latina, a ameaça militar está falando
mais alto do que a diplomacia.
Se vai ter guerra de fato? Muitíssimo improvável, mas o momento é
bastante grave. Se fosse só a Colômbia de um lado e o Equador de outro, ainda assim seria difícil, mas
mais fácil e negociável. Mas o que
de fato existe hoje são os padrinhos,
EUA e Venezuela, em lados opostos. Aí está o perigo.
elianec@uol.com.br
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