São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O Brasil na Segunda Guerra Mundial
CARLOS DE MEIRA MATTOS
As nossas Forças Armadas empenharam-se no conflito bélico após a declaração de guerra do Brasil aos governos nazi-fascistas da Alemanha e da Itália (22 de agosto de 1942). A decisão de nosso governo só se verificou após frenéticas manifestações populares em todas as capitais e cidades, em protesto ao torpedeamento, por submarinos em nossa costa, de navios mercantes brasileiros, sacrificando milhares de vidas de nossos patrícios. Ao todo foram 26 navios mercantes brasileiros torpedeados. A participação militar brasileira consistiu, essencialmente, no envio de uma força expedicionária do Exército (a FEB) e de um grupo de aviões de caça da Força Aérea para combater ao lado dos Aliados, na Itália, no teatro de operações do Mediterrâneo; nossas Marinha de Guerra e Força Aérea, juntamente com as forças norte-americanas, tiveram a seu cargo a missão de defesa do Atlântico Sul, assegurando principalmente a proteção de comboios e a guerra anti-submarina. A FEB levou à Europa um punhado de guerreiros inexperientes para se juntarem a uns e lutar contra outros guerreiros veteranos, representantes de uma cultura milenar, construtores de civilizações famosas, portadores dos "salvo-condutos" científicos e tecnológicos que destacam as nações de raça branca, oriundas de regiões de climas temperados. A FEB levou à Europa o desafio do trópico, mal falado pelos cientistas europeus, e a nossa "morenidade" (que, no dizer de Gilberto Freyre, é produto de um hibridismo eugênico, capaz de rivalizar com os membros das raças "puras", tese esta pouco aceita pela gente européia). Vale a pena, nesse quadro de presumida inferioridade genética e reconhecida inexperiência bélica, avaliar a atuação da tropa brasileira na Europa. A FEB combateu organizada numa divisão de infantaria. Combateram ao nosso lado, no mesmo fronte italiano, outras 22 divisões -seis norte-americanas, seis britânicas, três canadenses, três indianas, duas polonesas, uma sul-africana e uma neozelandesa. O Comando Supremo do teatro de operações estava a cargo do marechal inglês sire Harold Alexander e se compunha de dois Exércitos, o 5º, do general norte-americano Mark Clark, e o 8º, do general inglês Montgomery. Cada Exército compunha-se de corpos de Exército e estes de divisões. Coube à divisão brasileira integrar o 5º Exército (Clark) e o 4º corpo (Crittenberg). Nesse grandioso cenário estratégico internacional, onde tremulavam inúmeras bandeiras e se misturavam vários idiomas, a nossa FEB brilhou. Não ficou atrás, em operações guerreiras, de nenhuma outra das unidades que combateram ao seu lado na Itália. Melhor testemunho nos dá o seu comandante, o nunca suficientemente elogiado, o suficientemente competente, valoroso e destemido general Mascarenhas de Morais, no seu relatório de campanha: "No período de um ano de presença no teatro de operações do Mediterrâneo, a FEB, com um efetivo total de 25 mil homens e um efetivo combatente de 15 mil homens (uma divisão de infantaria), combateu ininterruptamente durante 239 dias. Teve 2.000 baixas de combate e 451 mortos. Enfrentou, sucessiva e alternadamente, dez divisões alemãs e três italianas. Fez 20.500 prisioneiros de combate, entre os quais dois oficiais generais, um alemão e o outro italiano". Sobre a atuação da FEB, assim escreveu o general Crittenberg, norte-americano, comandante do 4º Corpo de Exército, que teve a FEB sob suas ordens operacionais: "Os feitos da Força Expedicionária Brasileira durante a campanha do 4º Corpo de Exército na Itália terão um lugar proeminente quando for escrita a história da Segunda Guerra Mundial". Esta é a glória inquestionável da nossa FEB. Carlos de Meira Mattos, 91, doutor em ciência política e general reformado do Exército, é veterano da Segunda Guerra Mundial e conselheiro da Escola Superior de Guerra. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Mércio P. Gomes: A consagração do indigenismo brasileiro Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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