São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil na Segunda Guerra Mundial

CARLOS DE MEIRA MATTOS

Comemora-se no dia 8 de maio, depois de amanhã, o 60º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial no teatro de operações da Europa. São passados 60 anos. Há poucas pessoas entre os viventes da época dessa catástrofe bélica que deixou um inventário macabro de mais de 40 milhões de mortos, legiões de feridos e enorme, antes nunca vista, destruição material.
É tempo de lembrar aos brasileiros das duas últimas gerações, nascidos após 1945, que o Brasil esteve presente nessa guerra mundial, com suas Forças Armadas empenhadas no confronto militar e com sua economia atendendo às necessidades da logística e da estratégia das forças aliadas em defesa da preservação da democracia no mundo.


A nossa FEB brilhou. Não ficou atrás, em operações guerreiras, de nenhuma outra das unidades que combateram ao seu lado


As nossas Forças Armadas empenharam-se no conflito bélico após a declaração de guerra do Brasil aos governos nazi-fascistas da Alemanha e da Itália (22 de agosto de 1942). A decisão de nosso governo só se verificou após frenéticas manifestações populares em todas as capitais e cidades, em protesto ao torpedeamento, por submarinos em nossa costa, de navios mercantes brasileiros, sacrificando milhares de vidas de nossos patrícios. Ao todo foram 26 navios mercantes brasileiros torpedeados.
A participação militar brasileira consistiu, essencialmente, no envio de uma força expedicionária do Exército (a FEB) e de um grupo de aviões de caça da Força Aérea para combater ao lado dos Aliados, na Itália, no teatro de operações do Mediterrâneo; nossas Marinha de Guerra e Força Aérea, juntamente com as forças norte-americanas, tiveram a seu cargo a missão de defesa do Atlântico Sul, assegurando principalmente a proteção de comboios e a guerra anti-submarina.
A FEB levou à Europa um punhado de guerreiros inexperientes para se juntarem a uns e lutar contra outros guerreiros veteranos, representantes de uma cultura milenar, construtores de civilizações famosas, portadores dos "salvo-condutos" científicos e tecnológicos que destacam as nações de raça branca, oriundas de regiões de climas temperados. A FEB levou à Europa o desafio do trópico, mal falado pelos cientistas europeus, e a nossa "morenidade" (que, no dizer de Gilberto Freyre, é produto de um hibridismo eugênico, capaz de rivalizar com os membros das raças "puras", tese esta pouco aceita pela gente européia).
Vale a pena, nesse quadro de presumida inferioridade genética e reconhecida inexperiência bélica, avaliar a atuação da tropa brasileira na Europa.
A FEB combateu organizada numa divisão de infantaria. Combateram ao nosso lado, no mesmo fronte italiano, outras 22 divisões -seis norte-americanas, seis britânicas, três canadenses, três indianas, duas polonesas, uma sul-africana e uma neozelandesa. O Comando Supremo do teatro de operações estava a cargo do marechal inglês sire Harold Alexander e se compunha de dois Exércitos, o 5º, do general norte-americano Mark Clark, e o 8º, do general inglês Montgomery. Cada Exército compunha-se de corpos de Exército e estes de divisões. Coube à divisão brasileira integrar o 5º Exército (Clark) e o 4º corpo (Crittenberg).
Nesse grandioso cenário estratégico internacional, onde tremulavam inúmeras bandeiras e se misturavam vários idiomas, a nossa FEB brilhou. Não ficou atrás, em operações guerreiras, de nenhuma outra das unidades que combateram ao seu lado na Itália. Melhor testemunho nos dá o seu comandante, o nunca suficientemente elogiado, o suficientemente competente, valoroso e destemido general Mascarenhas de Morais, no seu relatório de campanha:
"No período de um ano de presença no teatro de operações do Mediterrâneo, a FEB, com um efetivo total de 25 mil homens e um efetivo combatente de 15 mil homens (uma divisão de infantaria), combateu ininterruptamente durante 239 dias. Teve 2.000 baixas de combate e 451 mortos. Enfrentou, sucessiva e alternadamente, dez divisões alemãs e três italianas. Fez 20.500 prisioneiros de combate, entre os quais dois oficiais generais, um alemão e o outro italiano".
Sobre a atuação da FEB, assim escreveu o general Crittenberg, norte-americano, comandante do 4º Corpo de Exército, que teve a FEB sob suas ordens operacionais: "Os feitos da Força Expedicionária Brasileira durante a campanha do 4º Corpo de Exército na Itália terão um lugar proeminente quando for escrita a história da Segunda Guerra Mundial".
Esta é a glória inquestionável da nossa FEB.

Carlos de Meira Mattos, 91, doutor em ciência política e general reformado do Exército, é veterano da Segunda Guerra Mundial e conselheiro da Escola Superior de Guerra.


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