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CRISE DE CONFIANÇA
Os mercados de capitais assumiram preponderância na
economia americana nas últimas
duas décadas. Esse sistema esteve
ancorado na transparência das informações -com as corporações divulgando balanços trimestrais, avalizados por auditores independentes.
Por um lado, esse sistema mostrou-se extremamente ágil para financiar novos empreendimentos,
com inovações técnicas. Por outro lado, introduziu uma lógica de curto
prazo na relação das empresas com
o mercado financeiro. As corporações ficaram submetidas a uma avaliação minuciosa e permanente dos
agentes financeiros.
Se as empresas não revelam projeções lucrativas, os investidores vendem as ações e suas cotações desabam. As corporações desvalorizadas
ficam expostas a processos hostis de
tomada de controle acionário. Essa
necessidade de agregar valor, a qualquer preço, vai mostrando sua face
perversa no momento da reversão do
ciclo de investimento dos anos 90.
Como afirmou, em tom crítico, o
economista Paul Krugman em artigo
publicado ontem nesta Folha, "agora, vale tudo": contabilidade agressiva; transações fictícias que "aumentam" as vendas; pacotes de remuneração de executivos com elevadas recompensas se os preços das ações
subirem; conflitos de interesses entre os analistas financeiros e as empresas nas quais os bancos de investimento desenvolvem negócios etc.
A revelação desses conflitos vai minando as regras de funcionamento
do sistema e generalizando uma crise de confiança. Após o colapso da
gigante de energia Enron, a lista de
empresas sob investigação por práticas contábeis heterodoxas continua
se expandindo.
Enfim, ampliam-se as suspeitas
quanto à transparência das empresas americanas e as razões para transacionar suas ações. Isso já se reflete
na cotação do dólar e nos fluxos de
recursos para os fundos de investimento. A retração dos investidores
estrangeiros e a saída de capitais
americanos pode dificultar o financiamento do enorme déficit comercial dos EUA. Se essa tendência se
aprofundar, pode surgir no horizonte o risco de o Fed (banco central
americano) ter de elevar a taxa de juros básica -a exemplo do que ocorreu no início da década de 80-, o
que comprometeria a tímida recuperação da economia mundial.
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