São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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AUMENTAR AS RESERVAS

O saldo de US$ 3,1 bilhões obtido pela balança comercial brasileira em maio merece ser comemorado, sobretudo pela constatação de que a tendência superavitária no comércio exterior continua a se aprofundar a despeito dos sinais de que a demanda interna se encontre em recuperação. Além dos indicadores relativos às vendas da indústria e do comércio no mercado doméstico, atesta essa recuperação a expansão das importações, que nos primeiros cinco meses do ano, sobre igual período de 2003, atingiu expressivos 19%.
No entanto, embora imprescindível para a redução da vulnerabilidade das contas externas do país, o aumento do superávit comercial não basta. Sintoma disso é a evolução do risco Brasil, que reflete as avaliações dos investidores acerca da capacidade do país de manter em dia seus pagamentos externos. Em janeiro, o risco ficou na faixa de 430 pontos, cerca de 50% acima da média do dos demais países emergentes -excluída a Argentina, que ainda se encontra em moratória. Desde então, o risco Brasil subiu para o patamar de 700 pontos (fechou a 668 pontos na sexta-feira), passando a representar praticamente o dobro do risco médio dos demais emergentes, que também se elevou, para 350 pontos.
Pode-se imputar essa mudança de percepção sobretudo à evolução da conjuntura das finanças internacionais. Com a crescente percepção de que logo os juros dos EUA deverão iniciar uma trajetória de alta, diminuiu o apetite dos investidores internacionais pelas aplicações mais rentáveis, porém mais arriscadas, em economias emergentes. Nesse ambiente, os indicadores relativos às contas externas passaram a ser lidos com olhos mais rigorosos -e a avaliação sobre a situação do Brasil sofreu piora particularmente intensa.
De fato, embora venham apresentando melhora, os indicadores de solvência externa do país ainda se encontram em posição desfavorável na comparação com outras economias emergentes. Dado o aumento das exportações e a lenta redução do estoque da dívida externa, o aspecto que passa a sobressair como principal calcanhar-de-aquiles na área externa é o nível ainda muito baixo das reservas de divisas do Banco Central, hoje em torno de US$ 22 bilhões. A título de comparação, em dezembro de 2003, a China tinha US$ 409 bilhões em reservas internacionais; Taiwan, US$ 203 bilhões; Coréia do Sul, US$ 143 bilhões; Índia, US$ 99,9 bilhões; México, US$ 60,1 bilhões.
A aquisição e a manutenção de divisas tem certamente um custo, mas ele seria recompensado pela redução da vulnerabilidade externa da economia e também por mais estabilidade na taxa de câmbio.
A autoridade monetária tem trabalhado nesse sentido, mas perdeu a oportunidade de avançar quando os fluxos de capitais internacionais pressionavam para baixo a cotação do dólar no Brasil. Desde fevereiro, o BC interrompeu a compra de divisas internacionais. É fundamental que volte a fazê-lo mesmo que de forma gradual. É uma prioridade que não pode continuar a ser adiada.



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