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CLÓVIS ROSSI
A cúpula dos otimistas
BUENOS AIRES - Um marciano que tivesse desembarcado ontem diretamente na Quinta de Olivos, a residência oficial do governo argentino,
teria uma idéia muito pálida da crise
que maltrata os países do Mercosul e
seus sócios Bolívia e Chile (este, bem
menos, é verdade).
A crise pouco ou nada frequentou
as exposições do presidente Eduardo
Duhalde, dos ministros Carlos Ruckauf (chanceler argentino) e Sérgio
Amaral (Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior) e do governador José Manuel de la Sota (da Província argentina de Córdoba).
Fernando Henrique Cardoso, sim,
falou de crise, mas como se se tratasse
de algo fácil de superar. Por exemplo:
"Dificuldades sempre existem, mas já
somos capitães de longo curso em
matéria de dificuldades".
Tudo bem, admitamos que ele e
seus pares sejam mesmo marujos de
longa e invejável experiência em matéria de crises. Mas que todos têm tomado alguns pesados "caldos" é
igualmente inegável.
Todos passaram ao largo também
da crise no Mercosul. É evidente que
não se imagina que governantes venham a público para dizer que deu
tudo errado, que seus países estão
naufragando, que o bloco que constituíram faliu ou vai falir na primeira
curva da esquina.
FHC, por exemplo, ironizou o que
acha ser pessimismo crônico de minha parte, em perfeito contraponto a
seu otimismo também crônico. Até
torço, honestamente, para que ele
esteja certo.
Mas não dá para ignorar que há
gente que acha que "o Mercosul está
morto, e aos mortos é melhor não incomodá-los", conforme dizia a pergunta feita por um jornalista do Chile (cujos empresários estão pedindo
distância do "morto").
Dá a impressão de que os governantes do Mercosul fazem como os
médicos de Tancredo Neves quando
o presidente agonizava no Incor: tentam curá-lo a golpes de boletins oficiais cor-de-rosa. Não funcionou com
Tancredo. Espero que funcione com o
Mercosul. Mas não apostaria um peso argentino.
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