São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

A cúpula dos otimistas

BUENOS AIRES - Um marciano que tivesse desembarcado ontem diretamente na Quinta de Olivos, a residência oficial do governo argentino, teria uma idéia muito pálida da crise que maltrata os países do Mercosul e seus sócios Bolívia e Chile (este, bem menos, é verdade).
A crise pouco ou nada frequentou as exposições do presidente Eduardo Duhalde, dos ministros Carlos Ruckauf (chanceler argentino) e Sérgio Amaral (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e do governador José Manuel de la Sota (da Província argentina de Córdoba).
Fernando Henrique Cardoso, sim, falou de crise, mas como se se tratasse de algo fácil de superar. Por exemplo: "Dificuldades sempre existem, mas já somos capitães de longo curso em matéria de dificuldades".
Tudo bem, admitamos que ele e seus pares sejam mesmo marujos de longa e invejável experiência em matéria de crises. Mas que todos têm tomado alguns pesados "caldos" é igualmente inegável.
Todos passaram ao largo também da crise no Mercosul. É evidente que não se imagina que governantes venham a público para dizer que deu tudo errado, que seus países estão naufragando, que o bloco que constituíram faliu ou vai falir na primeira curva da esquina.
FHC, por exemplo, ironizou o que acha ser pessimismo crônico de minha parte, em perfeito contraponto a seu otimismo também crônico. Até torço, honestamente, para que ele esteja certo.
Mas não dá para ignorar que há gente que acha que "o Mercosul está morto, e aos mortos é melhor não incomodá-los", conforme dizia a pergunta feita por um jornalista do Chile (cujos empresários estão pedindo distância do "morto").
Dá a impressão de que os governantes do Mercosul fazem como os médicos de Tancredo Neves quando o presidente agonizava no Incor: tentam curá-lo a golpes de boletins oficiais cor-de-rosa. Não funcionou com Tancredo. Espero que funcione com o Mercosul. Mas não apostaria um peso argentino.


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