|
Próximo Texto | Índice
DEBATES PREVISÍVEIS
Os debates na TV entre candidatos à Presidência já se firmaram como uma marca da redemocratização brasileira. O de domingo,
promovido pela Bandeirantes, revelou-se representativo da evolução por
que vêm passando esses eventos ao
longo dos anos, processo que tende
a torná-los, ao mesmo tempo, menos conflituosos e mais frequentes.
Há dúvidas sobre a capacidade de
debates exercerem influência direta
na escolha do voto. A audiência média do encontro de anteontem, aferida pelo Ibope, foi de 8,7 pontos na
Grande São Paulo. Grosso modo,
nesse universo geográfico um contingente estimado em 750 mil pessoas acompanhou o debate.
Não será, portanto, pela massificação da mensagem de cada candidato
que esse primeiro debate influirá nos
rumos da disputa sucessória. Ele deve exercer algum impacto indireto,
seja pela via do público dito "formador de opinião", seja pelo uso das
imagens editadas na propaganda
gratuita dos candidatos, seja, ainda,
pelo seu encadeamento na série de
outros eventos parecidos que serão
promovidos até as eleições.
O mérito de fomentar a discussão
pública entre candidatos cabe àqueles que, como a Bandeirantes, vêm
insistindo em realizar debates desde
o início da redemocratização. Estabelecer contato jornalístico direto entre candidato e público -em debates, entrevistas ou sabatinas- é objetivo hoje buscado por praticamente
todos os meios de comunicação.
Mas o debate de domingo evidenciou também algo importante que se
perdeu nessa trajetória. Trata-se das
confrontações francas entre candidatos, as quais as assessorias dos
presidenciáveis, que formulam as regras desses eventos, foram tornando
mais difíceis. Curioso notar que alguns dos melhores momentos do
evento de anteontem se deram justamente quando os rígidos figurinos
do marketing político foram afrouxados, com destaque para a polarização entre Ciro Gomes e José Serra.
O ideal, portanto, seria que as regras para esses encontros fossem rediscutidas a ponto de preservá-los
como instância legítima de discussão de idéias, mas de livrá-los de tantos controles. Cabe dar maior vazão à
imprevisibilidade, um dos elementos que marcam o modo democrático de escolher governantes.
Próximo Texto: Editoriais: O PAPEL DO FED Índice
|