São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

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DEBATES PREVISÍVEIS

Os debates na TV entre candidatos à Presidência já se firmaram como uma marca da redemocratização brasileira. O de domingo, promovido pela Bandeirantes, revelou-se representativo da evolução por que vêm passando esses eventos ao longo dos anos, processo que tende a torná-los, ao mesmo tempo, menos conflituosos e mais frequentes.
Há dúvidas sobre a capacidade de debates exercerem influência direta na escolha do voto. A audiência média do encontro de anteontem, aferida pelo Ibope, foi de 8,7 pontos na Grande São Paulo. Grosso modo, nesse universo geográfico um contingente estimado em 750 mil pessoas acompanhou o debate.
Não será, portanto, pela massificação da mensagem de cada candidato que esse primeiro debate influirá nos rumos da disputa sucessória. Ele deve exercer algum impacto indireto, seja pela via do público dito "formador de opinião", seja pelo uso das imagens editadas na propaganda gratuita dos candidatos, seja, ainda, pelo seu encadeamento na série de outros eventos parecidos que serão promovidos até as eleições.
O mérito de fomentar a discussão pública entre candidatos cabe àqueles que, como a Bandeirantes, vêm insistindo em realizar debates desde o início da redemocratização. Estabelecer contato jornalístico direto entre candidato e público -em debates, entrevistas ou sabatinas- é objetivo hoje buscado por praticamente todos os meios de comunicação.
Mas o debate de domingo evidenciou também algo importante que se perdeu nessa trajetória. Trata-se das confrontações francas entre candidatos, as quais as assessorias dos presidenciáveis, que formulam as regras desses eventos, foram tornando mais difíceis. Curioso notar que alguns dos melhores momentos do evento de anteontem se deram justamente quando os rígidos figurinos do marketing político foram afrouxados, com destaque para a polarização entre Ciro Gomes e José Serra.
O ideal, portanto, seria que as regras para esses encontros fossem rediscutidas a ponto de preservá-los como instância legítima de discussão de idéias, mas de livrá-los de tantos controles. Cabe dar maior vazão à imprevisibilidade, um dos elementos que marcam o modo democrático de escolher governantes.


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