|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SERGIO COSTA
Magia cubana
RIO DE JANEIRO - Cuba é a Disney da esquerda. A ilha da fantasia
não-capitalista está ali há meio século para o mundo ver como seria
se a história fosse outra. Não é à toa
que tanto atrai para férias órfãos
brasileiros de sonhos e utopias dos
anos 60/70. Se Cuba é a Disneyworld, Fidel tem a força midiática
do Mickey para o parque temático
socialista -o mestre de cerimônias
vestido como um eterno guerrilheiro. Ele representa a sobrevida de
Ernesto Guevara, a perpetuação do
mito revolucionário, a barba à prova das giletes multinacionais.
O fim da era Fidel põe Cuba numa encruzilhada. Qual de suas vocações para "Disney" triunfará? A
socialista, que revela em "estado
bruto" um país que adentrou o século 21 na periferia do desenvolvimento, quando até a China fez reformas para se adaptar à demanda
de novos tempos? Ou a Cuba escapista e decadente das praias de Varadero, com mar paradisíaco e hotéis permissivos ao turismo sexual
que atrai dólares por fora para os
"mouros y cristianos" de cada dia?
Um dilema real, já que na ilha onde todos têm direito a educação,
boa saúde, dentes bonitos e acesso
aos esportes, também faz falta a
simplicidade de bons cadernos, canetas, creme dental, xampu e tênis
para saltos um pouco mais altos.
Sem Fidel, muitos empresários
estrangeiros no país já previam,
desde o início da década, que Cuba
voltaria a ser uma ilha do Caribe como outra qualquer. Menos carismática, mais caricata no começo,
até ser engolfada pelo capital global. A semente já estava plantada
por grandes grupos hoteleiros europeus, sócios minoritários do Estado nos "resorts all inclusive" do
balneário, onde impera a lei do rum.
Para eles, a verdadeira vocação cubana seria a de um balneário para
turistas de países ricos. Lá, já se vive
assim no mercado paralelo.
"É a magia!", diria o Mickey.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Dominó Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: A conseqüência das informalidades Índice
|