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Promessas frustradas
Resultado fiscal do setor público mostra muita despesa corrente, excesso de arrecadação e pouco investimento
A POUPANÇA que o setor
público brasileiro faz
para pagar os juros da
sua dívida somou R$
11,65 bilhões em junho -valor
mais alto para o mês desde 1991.
O chamado superávit primário
fechou o primeiro semestre em
5,9% do PIB, acima dos 5,2% do
mesmo período de 2006.
Por definição, um superávit
primário mais alto propicia alívio mais rápido do peso da dívida
pública. Mas a elevação ora observada e os fatores que concorrem para esse resultado não correspondem às diretrizes que as
autoridades afirmam perseguir.
O governo anunciou no início
do ano que admitiria um superávit primário mais reduzido do
que o de 2006. A redução seria
viável, em vista da maior segurança quanto às condições de
solvência do setor público, e visaria a abrir margem para a elevação do investimento em infra-estrutura.
Ao lado disso, as autoridades
também afirmam, há tempos,
que pretendem reduzir gradualmente a exagerada carga tributária. Para tanto, sabem que precisam diminuir ao longo do tempo
a fatia das chamadas despesas
correntes (gastos de manutenção da máquina pública) nos dispêndios federais. No PAC, por
exemplo, o governo propôs mecanismos para conter o avanço
dos salários dos servidores.
O resultado fiscal do primeiro
semestre mostra que, nos três
casos -expansão de investimentos; moderação da carga tributária; e freio nas despesas correntes-, as pretensões do governo
não vêm se materializando.
O investimento público, em
particular do governo federal, segue travado. Sintoma de persistente ineficiência na gestão, é um
dos fatores que contribuem para
o crescente receio de um "apagão" na infra-estrutura. A restrição já ocorre na aviação, mas teria repercussões terríveis para a
economia como um todo se atingisse a oferta de eletricidade.
A arrecadação de impostos federais cresceu no primeiro semestre 13,5%, enquanto a receita
de ICMS, principal fonte de recursos dos Estados, subiu 9%.
Essas taxas são bem mais altas
do que o ritmo de crescimento
do PIB. Trata-se de uma evidência de que -contra todas as promessas e a despeito das reduções
pontuais concedidas a setores
específicos- o peso dos impostos continua a aumentar.
O crescimento forte da arrecadação vai pesar na discussão sobre a prorrogação da CPMF, que,
na ausência de novo aval do Congresso, deixará de vigorar no fim
do ano. O tributo merece continuar, mas apenas mediante redução relevante, ainda que gradativa, na sua alíquota, que hoje
grava em 0,38% os saques bancários. O argumento do governo
para manter tudo como está se
enfraquece diante da abundância de outras fontes de receita.
Por fim, as despesas federais
com pessoal cresceram 12,8% no
semestre, refletindo, em boa medida, generosos reajustes salariais concedidos ao funcionalismo no ano eleitoral de 2006. E o
governo, de modo irresponsável,
permite que sua proposta de limitar o aumento real com a folha
do funcionalismo permaneça
engavetada no Congresso.
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