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Resposta insuficiente
DOIS ANOS após o assassinato do brasileiro Jean
Charles de Menezes pela
polícia londrina, uma comissão
independente divulgou na semana passada relatório em que faz
duras críticas à corporação, em
especial ao comissário assistente
Andy Hayman, encarregado do
setor de contraterrorismo.
O novo documento representa
um avanço em relação às manobras que já foram feitas pela polícia e pela própria Promotoria para evitar punições. Fica, entretanto, muito aquém de dar um
novo rumo ao caso.
Foram muitas e gritantes as falhas da Scotland Yard e do sistema de Justiça. Jean Charles foi
seguido desde que saiu de casa.
Ao contrário do que se aventou
de início, não esboçou reação
diante da abordagem nem usava
trajes "suspeitos". Não foram
poucas as oportunidades da polícia para repensar a estratégia antes de desferir oito tiros à queima-roupa no brasileiro rendido.
Igualmente lamentáveis foram
as tentativas de acobertar os erros. É aí que, segundo o relatório,
entra Hayman. Ele teria deliberadamente prestado informações enganosas ao chefe de polícia, Ian Blair, o que o teria levado
a dar declarações erradas sobre o
incidente. É possível, mas, dado
o histórico de inverdades e manipulações, não seria absurdo enxergar no documento um esforço para preservar Blair, sacrificando o subalterno.
Um ano depois, veio a absurda
decisão da Promotoria de não
processar nenhum indivíduo,
apenas a instituição policial, que
pode ser condenada a pagar uma
multa. Seria um caso inédito de
efeito (o assassinato de Jean
Charles) sem causa (responsáveis pelos tiros e pela forma desastrada como se conduziu a
operação policial).
É lamentável constatar que a
polícia britânica, outrora tomada como modelo em todo o mundo, tenha decaído tanto.
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