|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Ranço regional
RIO DE JANEIRO - Parece incrível, mas, até poucos anos, quando a
Varig ainda estava em forma e reinando nos nossos céus, voar era um
meio de transporte tão natural que
nem era objeto de conversação.
Em qualquer ponto do Brasil,
diante de uma viagem doméstica ou
para o exterior, podia-se marcar um
compromisso para poucos minutos
depois da chegada. Era só calcular o
tempo de porta a porta, envolvendo
o check-in, o vôo e o recolhimento
da bagagem no destino. Não tinha
erro. E, mais importante: o avião
nos entregava vivos.
Mas então começou a crise da Varig -que o governo, torcedor e parceiro da TAM, deixou chegar ao insustentável. Providenciou-se o dinheiro para mandar um astronauta
brasileiro fazer macaquices no espaço, mas não para resolver o problema de uma empresa com credibilidade e prestígio internacionais,
milhares de funcionários afiados e
milhões de clientes fiéis.
A Varig quebrou, foi desmembrada e, comprada por uns e outros,
continuou a voar, só que amputada
de 64 aeronaves e 208 rotas no Brasil. Originalmente, essas rotas eram
distribuídas com lógica e serviam a
todo o país, porque a Varig tinha
mentalidade nacional. Mas os herdeiros de suas linhas nunca conseguiram se livrar do ranço regional.
Nos últimos anos, cansei de ir do
Rio a Brasília tendo de passar antes
por Congonhas. Ou de ir ou voltar
da Europa sendo obrigado a esse
mesmo desvio maluco. Dizia-se que
era por causa da demanda maior de
São Paulo.
Agora sabe-se que não. Era porque, esnobando o interesse público
e centralizando tudo em Congonhas, a empresa regional que dominou o país via crescer absurdamente a sua rentabilidade. O inevitável
aconteceu, e o querido e inocente
Congonhas pagará por ter sido
obrigado a engolir mais do que podia mastigar.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Ecos da popularidade Próximo Texto: Alba Zaluar: Exemplo vem de cima Índice
|