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Outono árabe
Quando o ditador tunisiano Ben
Ali foi derrubado, em meados de
janeiro, era arriscado prever que a
onda de revoltas se espalharia,
qual tempestade de areia, pelo
norte da África e pelo Oriente Médio. Apenas um mês depois, a
queda de Hosni Mubarak no Egito
sugeria que nenhum déspota árabe estava a salvo da deposição.
Passados seis meses do levante
egípcio, e quase oito desde que
um vendedor de verduras tunisiano se imolou deflagrando a Primavera Árabe, um balanço mais distanciado revela que nem um nem
outro prognóstico se confirmou.
Em algum momento dos últimos meses, Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Egito, Iêmen, Iraque,
Jordânia, Líbia, Marrocos, Omã,
Síria e Tunísia passaram por agitações, com graus variados de descontentamento e violência.
Dois regimes foram derrubados
-além do ditador do Iêmen, que
saiu ferido e tem retorno incerto.
Quase todos administraram alguma combinação de repressão militar, negociação política e benesses econômicas. Atualmente,
duas ditaduras, Líbia e Síria, vacilam como pedras de dominó.
Um dos fatores que ajudam a
explicar os desfechos distintos é a
lealdade do Exército ao ditador de
turno. Enquanto na Tunísia e no
Egito os militares, em certa medida mais "profissionais", recusaram-se a abrir fogo contra civis
quando os confrontos atingiram
ponto crítico, na Líbia e na Síria as
tropas se voltaram contra a população sem muito hesitar.
No caso líbio, a intervenção internacional barrou o massacre da
capital rebelde, Benghazi. Alguns
oficiais chegaram a desertar. Um
dos mais graduados assumiu o comando da insurgência e acabou
morto em circunstâncias pouco
claras na última semana.
A maior parte do aparato militar, no entanto, continua fiel ao
coronel Muammar Gaddafi, que
manteve aliados em postos-chave
e dizimou as vozes dissonantes.
Na Síria, os elos entre o regime e
o Exército são ainda mais fortes. A
cúpula militar, e também a econômica, é formada pela minoria
alauita, à qual pertence Bashar
Assad e que perfaz 10% da população. A destruição da cidade de
Hama, cuja cifra de mortos ultrapassa duas centenas e deve subir,
é um exemplo poderoso da eficiência letal da aliança sectária.
Há poucos dias, o ditador egípcio Mubarak foi mostrado dentro
de uma jaula, no Cairo, para o início do julgamento por crimes de
seu governo e pela repressão aos
manifestantes da praça Tahrir.
A ofensiva rebelde com apoio
da Otan na Líbia pode derrubar
Gaddafi, assim como não se descarta uma reviravolta na Síria.
Mas nada indica, por ora, que a
imagem do déspota enjaulado se
repetirá em outro país da região.
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