São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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Outono árabe

Quando o ditador tunisiano Ben Ali foi derrubado, em meados de janeiro, era arriscado prever que a onda de revoltas se espalharia, qual tempestade de areia, pelo norte da África e pelo Oriente Médio. Apenas um mês depois, a queda de Hosni Mubarak no Egito sugeria que nenhum déspota árabe estava a salvo da deposição.
Passados seis meses do levante egípcio, e quase oito desde que um vendedor de verduras tunisiano se imolou deflagrando a Primavera Árabe, um balanço mais distanciado revela que nem um nem outro prognóstico se confirmou.
Em algum momento dos últimos meses, Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Egito, Iêmen, Iraque, Jordânia, Líbia, Marrocos, Omã, Síria e Tunísia passaram por agitações, com graus variados de descontentamento e violência.
Dois regimes foram derrubados -além do ditador do Iêmen, que saiu ferido e tem retorno incerto. Quase todos administraram alguma combinação de repressão militar, negociação política e benesses econômicas. Atualmente, duas ditaduras, Líbia e Síria, vacilam como pedras de dominó.
Um dos fatores que ajudam a explicar os desfechos distintos é a lealdade do Exército ao ditador de turno. Enquanto na Tunísia e no Egito os militares, em certa medida mais "profissionais", recusaram-se a abrir fogo contra civis quando os confrontos atingiram ponto crítico, na Líbia e na Síria as tropas se voltaram contra a população sem muito hesitar.
No caso líbio, a intervenção internacional barrou o massacre da capital rebelde, Benghazi. Alguns oficiais chegaram a desertar. Um dos mais graduados assumiu o comando da insurgência e acabou morto em circunstâncias pouco claras na última semana.
A maior parte do aparato militar, no entanto, continua fiel ao coronel Muammar Gaddafi, que manteve aliados em postos-chave e dizimou as vozes dissonantes.
Na Síria, os elos entre o regime e o Exército são ainda mais fortes. A cúpula militar, e também a econômica, é formada pela minoria alauita, à qual pertence Bashar Assad e que perfaz 10% da população. A destruição da cidade de Hama, cuja cifra de mortos ultrapassa duas centenas e deve subir, é um exemplo poderoso da eficiência letal da aliança sectária.
Há poucos dias, o ditador egípcio Mubarak foi mostrado dentro de uma jaula, no Cairo, para o início do julgamento por crimes de seu governo e pela repressão aos manifestantes da praça Tahrir.
A ofensiva rebelde com apoio da Otan na Líbia pode derrubar Gaddafi, assim como não se descarta uma reviravolta na Síria. Mas nada indica, por ora, que a imagem do déspota enjaulado se repetirá em outro país da região.


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