São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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RUY CASTRO

Em busca de David

RIO DE JANEIRO - Trabalho com biografias há mais de 20 anos e acumulei alguma experiência sobre o assunto. Descobri que biografar alguém significa, a partir de certo ponto, abdicar da própria vida e se mudar para a vida do biografado. E isso pode durar dois, três, cinco anos. Foi o tempo que dediquei, respectivamente, a Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda.
É o melhor trabalho do mundo ou o mais angustiante, dependendo das oscilações do biografado. Pode ser também as duas coisas ao mesmo tempo porque, durante a longa apuração das informações, o biógrafo convive simultaneamente com todas as fases do biografado, as boas e as ruins. Mas, por mais que sofra ou se apaixone por seu personagem, o biógrafo não pode se esquecer que é, primeiro, um técnico, obrigado à objetividade.
Como fazer, no entanto, se o biografado for avô do biógrafo e, do resultado final da apuração, resultar não apenas uma biografia, mas uma informação -uma resposta- que iluminará um mistério tanto na vida do biografado quanto na do biógrafo e de sua família?
É a tarefa a que se dispôs um jovem americano, Andrew Zingg. Ele é neto do fotógrafo David Drew Zingg (1923-2000), que, em 1964, saiu para comprar cigarros em Nova York, tomou um avião para o Rio (que já conhecia), largou casa, mulher, três filhos (12, 8 e 6 anos), um belo contrato na revista "Look", e não voltou nem deu explicações. A família nunca mais o viu.
Andrew tem andado por Rio e São Paulo à cata de pistas do avô, que ele, claro, não conheceu. Já falou com dezenas de amigos brasileiros de Zingg, entre os quais eu. Contei-lhe de como David e eu nos demos por 30 anos, e disse a Andrew que, se houver uma resposta para o mistério, alguém, em algum momento ou lugar, aqui ou nos EUA, mesmo que leve anos, e até sem querer, acabará lhe dizendo. A biografia faz isto.


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