São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A crise nos países ricos é uma oportunidade para países em desenvolvimento?

SIM

Intensa luz no fim do túnel

ERNESTO LOZARDO

Os elevados deficit orçamentário e da dívida pública, conjugados com a fragilidade de regulação e de fiscalização do sistema financeiro, causaram a crise maior econômica e fiscal deste século. Porém, a expressiva expansão fiscal e monetária desses países para evitar uma depressão econômica inviabilizou a retomada do crescimento e do emprego por um longo período de tempo.
O mundo globalizado não se restringe aos países desenvolvidos. Dele fazem parte os emergentes, que passaram a ter importância na prosperidade de todas as sociedades. As economias e os mercados financeiros tornaram-se mais interdependentes e mais interconectados, mas a crise dos desenvolvidos não arrastou os emergentes.
A globalização, como um processo de amplas oportunidades para o crescimento da riqueza nacional, do emprego e da inovação econômica e financeira das nações, requer a existência de estruturas econômicas, financeiras e fiscais eficientes tanto dos países do Primeiro Mundo como dos emergentes.
Segundo o presidente do banco central dos Estados Unidos, Ben Bernanke, a causa da crise foi o excesso da poupança dos países asiáticos e dos árabes produtores de petróleo. Os emergentes passaram a ser os vilões da crise, causando excesso de liquidez e queda prolongada da taxa de juros tanto nos Estados Unidos como nos países da zona do euro, acelerando a demanda de consumo.
Uma releitura dessa premissa por linhas retas significa dizer que os emergentes não podem ter excesso de poupança ou de reservas internacionais, pois eles causam crises financeiras e fiscais nos países desenvolvidos. Dá para acreditar? Como se diz no interior paulista: isso é história para boi dormir.
Na falta de poupança interna para financiar as demandas por investimentos, os Estados Unidos acumularam deficit de 4,5% do PIB na conta corrente do balanço de pagamentos. Soma-se a esse deficit o de natureza fiscal, que passou de 40% para 90% do PIB em menos de uma década, e as famílias aumentaram suas dívidas em quase duas vezes o valor da renda disponível.
Desde o início dos anos 1980, os governos dos Estados Unidos, exceto o de Bill Clinton, buscaram financiar o consumo interno com recursos dos produtores de petróleo e da poupança asiática.
Nada de mal nisso, mas ocorreu que tanto o sistema financeiro e a política fiscal dos Estados Unidos e dos países da zona do euro não se ativeram ao aprofundamento dos desequilíbrios fiscais e do despreparo do sistema financeiro para conviver com um período de excesso de liquidez global.
O fato é que, de um lado, os países desenvolvidos não estão estruturalmente preparados para enfrentar globalização dos fluxos de recursos e de comércio e, de outro, não há um sistema financeiro internacional adequado às complexidades do capitalismo deste século.
Importa salientar que a crise financeira e fiscal dos países desenvolvidos ocorreu não por conta do excesso de liquidez dos países emergentes, mas pela escassez de medidas prudenciais no sistema financeiro internacional.
Essa crise será mais longa do que se imaginou. No entanto, ao longo dos próximos cinco anos, será construído um novo sistema financeiro internacional, para colocar em marcha a expansão do comércio e o aprofundamento do capitalismo: novas medidas prudenciais de endividamento, maior rigor no controle e na fiscalização de operações financeiras bancárias e limites na irresponsabilidade fiscal de governos do Primeiro Mundo.
No final desse período, provavelmente a partir de 2016, o mundo estará vivendo uma nova realidade. Um cenário mais favorável ao crescimento e ao emprego nos países desenvolvidos. Os países emergentes estarão desfrutando de um elevado nível de prosperidade: terão reduzido a pobreza e melhorado a distribuição de renda; estarão mais competitivos e plenamente integrados na economia global. A partir desse período, o mundo estará revivendo os "anos dourados" do crescimento, que ocorreram durante as décadas de 1950 e 1970.

ERNESTO LOZARDO é professor de economia da EAESP-FGV e autor do livro "Globalização: A Certeza Imprevisível das Nações" (Editora do Autor, 2008).

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