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AMEAÇA EFICAZ
Surtiu o efeito esperado a
ameaça -quase concretizada- do Ministério da Saúde de quebrar a patente do nelfinavir, uma das
drogas do arsenal terapêutico contra
a Aids. O laboratório suíço Roche,
que detém os direitos sobre o medicamento, concordou em reduzir o
preço do fármaco em 40%.
Com o acordo, o Brasil desiste de
produzir a droga em laboratórios públicos, mas o valor que o governo pagava pelo comprimido vai cair de
US$ 1,07 para US$ 0,64.
A controvérsia demonstra que é
possível -e importante- que governos de países pobres e grandes laboratórios multinacionais cheguem
a um acordo. Não se contesta, evidentemente, o instituto da proteção
patentária. Sem ele, o arsenal de medicamentos à disposição da humanidade seria sem dúvida bem mais limitado, com prejuízos para todos.
Mas a indústria farmacêutica precisa compreender que não está vendendo supérfluos. Medicamentos
são gêneros de primeira necessidade
e praticamente todas as legislações
do mundo prevêem a quebra de patentes em caso de emergências sanitárias, como a epidemia de Aids.
De resto, nenhuma pesquisa com
drogas parte hoje do zero. Os laboratórios, quando desenvolvem um novo produto médico, se utilizam em
larga medida de conhecimentos
científicos que foram obtidos com
verbas oficiais e pelos quais a indústria raramente paga alguma coisa.
Assim, todo novo medicamento,
ainda que indiretamente, conserva
algo de público.
É justo, portanto, que a parcela de
esforço coletivo da humanidade que
existe por trás de cada nova droga retorne à população na forma de preços diferenciados para as nações
mais pobres. É um conceito que começa, aos poucos, a ser definido e
aceito por organismos como a ONU.
Além disso, medicar populações
miseráveis não representa, para o laboratório, perda de mercado. É gente
que jamais compraria o remédio aos
preços regulares.
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