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TENDÊNCIAS/DEBATES
A força unida do trabalho e do capital
PAULO PEREIRA DA SILVA e RAYMUNDO MAGLIANO FILHO
Com a chegada do século 21, vai
ficando cada vez mais para trás o
maniqueísmo que por longos anos
marcou o embate político nas sociedades capitalistas e em cujo ambiente se
alimentou um permanente confronto e
estado de beligerância entre as forças do
trabalho e do capital. Atualmente as democracias liberais em muitos países desenvolvidos apoiam-se significativamente em modelos políticos que ressaltam a cooperação entre trabalhadores e
empresários capitalistas.
Essas duas grandes forças da sociedade moderna compreendem agora que
são partes constitutivas de um mesmo
corpo social e que podem, assim, compor ações complementares, somando
esforços na busca de um mesmo objetivo: o desenvolvimento econômico sustentado, com harmonia e justiça social.
Hoje, no Brasil, empresários e trabalhadores acalentam uma aspiração comum, que é a retomada do crescimento
do país. Ambos estão ansiosos para ver
suas fábricas movimentarem com entusiasmo as linhas de montagem, gerando
empregos, gerando renda e bem-estar
para todos os trabalhadores brasileiros.
Mas esse anseio das forças produtivas
da sociedade esbarra num contexto
econômico adverso. Esbarra particularmente numa política econômica que
não tem atribuído a merecida importância à questão da retomada da atividade produtiva. Com efeito, para fazer a
produção industrial crescer de forma
sustentada, seria necessário que o governo tivesse uma política estimuladora
da indústria e do nível de emprego, mas
isso eventualmente entra em conflito
com a diretriz da atual política econômica, sempre zelosa no cumprimento
de seus objetivos fiscais e monetários.
O fato é que temos hoje uma estrutura
tributária que pune o investimento das
empresas, que compromete uma parcela substancial de nossa produção para a
exportação e que empurra grande parte
das empresas e trabalhadores para a informalidade. Assim perde o país, em
termos de produção, renda, emprego e
também receita tributária.
Por sua vez, o mercado brasileiro de
capitais, do qual se deve esperar um papel de primeira grandeza no financiamento da empresa nacional, encontra-se relegado a uma posição menor no rol
das prioridades governamentais. Isso
pode ser atestado pela atitude contemplativa e até fatalista com que algumas
autoridades têm acompanhado o processo de definhamento do nosso mercado nesses últimos anos.
Enganam-se aqueles
que não conseguem
perceber um interesse legítimo do trabalhador no mercado de ações
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Empresas têm fechado o seu capital ao
público investidor no Brasil; grandes
empresas nacionais têm dado preferência ao lançamento de ações no mercado
norte-americano; os custos de transação no mercado brasileiro foram excessivamente onerados com o impacto da
CPMF, tirando da nossa Bolsa de Valores as condições de competir na economia global. E o governo já prepara, para
o início de 2002, a duplicação da alíquota do Imposto de Renda sobre os ganhos de capital da pessoa física em operações no mercado de ações, que deverá
se elevar dos atuais 10% para 20%.
Como consequência, os negócios realizados na Bovespa vêm declinando
acentuadamente, pondo em questionamento a própria solvência de uma instituição centenária e fundamental para o
desenvolvimento econômico brasileiro.
E as corretoras, premidas pela queda de
receita, começam a considerar a conveniência de cortes de pessoal.
Foi diante desse quadro de desalento
que os operadores das corretoras de valores e demais profissionais do mercado
de capitais resolveram, justificadamente, se mobilizar para alertar o país sobre
a gravidade da situação no mercado. E
nesta mobilização os operadores contam com o apoio dos trabalhadores ligados à Força Sindical. Dada a expressividade, a combatividade e a liderança dessa central sindical no movimento dos
trabalhadores, as reivindicações ganharão substancial peso político.
Enganam-se aqueles que não conseguem perceber um interesse legítimo do
trabalhador no mercado de ações. Este é
um preconceito ultrapassado pela evolução dos acontecimentos políticos e
econômicos na maior parte do mundo.
Na verdade, o trabalhador também pode desempenhar importante papel como agente poupador e, nessa condição,
participar da capitalização da empresa
nacional, compartilhar a propriedade
da empresa com sócios capitalistas e se
beneficiar da distribuição de lucros.
A enorme receptividade dos trabalhadores, aqui no Brasil, ao programa de
venda de ações da Petrobras com recursos do FGTS demonstra cabalmente
que o trabalhador brasileiro almeja algo
mais do que apenas receber salários no
final do mês. Podemos ressaltar ainda
que, no caso da Petrobras, os trabalhadores tiveram ganhos de mais de 70%
no investimento em ações, enquanto
quem manteve o dinheiro na conta do
FGTS teve rendimentos irrisórios.
Lembramos que foi uma reivindicação da Força Sindical que os trabalhadores pudessem ter acesso às ações no
caso das privatizações.
É por tudo isso que a Força Sindical
está na luta com os trabalhadores da
Bolsa de Valores, num movimento que
busca revigorar o mercado brasileiro de
capitais e os empregos que estão em jogo neste processo. Estamos, mercado e
trabalhadores, unidos por um mesmo
objetivo: queremos crescimento, renda,
emprego. Queremos também um mercado de capitais pujante, que contribua
para a capitalização das nossas empresas, com geração de novos postos de
trabalho, e para uma melhor distribuição da renda nacional.
Paulo Pereira da Silva, 45, é presidente da Força Sindical. Raymundo Magliano Filho, 59, é
presidente da Bovespa.
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