São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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O PACTO DA CUT

O presidente da Central Única dos Trabalhadores, Luiz Marinho, apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ministro José Dirceu e a um grupo de empresários a proposta de um pacto com vistas a dar sustentação ao crescimento da economia. Obviamente que pactos não têm esse dom, embora uma coordenação das ações dos diversos setores econômicos nessa direção seja desejável.
A idéia de Marinho, que será levada ao presidente eleito da Fiesp, Paulo Skaf, é articular um "entendimento social" para evitar que a retomada da atividade econômica em curso não seja abortada por falta de investimentos, aumento da inflação e novas elevações da taxa de juros, conforme já sinalizou a ata de agosto do Copom.
Na fórmula imaginada pelo sindicalista, cada setor econômico cederia e receberia compensações em favor do crescimento sustentado: o governo diminuiria os depósitos compulsórios e os impostos que incidem sobre o setor financeiro para que este reduza os "spreads" e amplie a oferta de crédito; os trabalhadores cederiam nas pressões salariais, mas teriam mais garantias de emprego; os empresários controlariam os aumentos de preços e fariam investimentos produtivos em troca de uma redução da carga tributária; e o Banco Central, por fim, se tudo isso desse certo, poderia adotar uma política monetária menos restritiva.
A experiência já demonstrou de sobejo que compromissos dessa ordem, relativamente simples na formulação, são extremamente complexos na implementação. Mesmo com simpatias governamentais e de empresários, não há como não ver com ceticismo as perspectivas de que a movimentação ganhe representatividade e atraia o apoio dos múltiplos atores e interesses em cena.
Do ponto de vista político, a proposta parece expressar uma tentativa da ala "desenvolvimentista" do governo, representada, entre outros, pelo senador Aloizio Mercadante, possível candidato ao governo de São Paulo, de ampliar suas alianças no Estado e melhor se posicionar nos embates com o Ministério da Fazenda e o Banco Central.


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