São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Farmácia (im)popular
JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI
A Farmácia Popular venderá remédios prejudicando de forma inexplicável a distribuição gratuita. Existem várias declarações dos laboratórios públicos de que não têm condições de supri-las sem reduzir o fornecimento para as unidades públicas de saúde. Além disso, essa dispensação gratuita já se faz, de modo incipiente, mas progressivo e sério, nos centros de saúde, através de um programa denominado Cesta Básica de Medicamentos, que precisa e pode ser ampliado. Mas o comportamento político entrópico de destruir o que vem de governo anterior, infelizmente, continua inabalado. Tudo ao gosto da moda, com a grife Duda Mendonça: construir, inaugurar, deixar marca física e fazer tantas pirotecnias quanto possível. Com penduricalhos como esse, tem se deixado de fazer o que é essencial para a implementação de uma política de medicamentos correta e sustentável. Perdeu-se na década de 80 a oportunidade de independência em sais básicos, abortando o Projeto Codetec, da Unicamp, e perdeu-se na década de 90 a oportunidade de introduzir salvaguardas vitais na Lei das Patentes. As indústrias farmoquímicas brasileiras fecharam: tínhamos mais de cem, temos hoje menos de 50; e a Índia, de quem compramos agentes ativos, tem mais de mil. Hoje, ao lado de uma estratégia correta de distribuição e dispensação, deveríamos estar trabalhando em duas outras direções: 1) incentivo à produção interna de sais básicos e à indústria farmoquímica nacional, para baratear efetivamente os medicamentos no Brasil; e 2) término da ociosidade e ampliação das plantas dos laboratórios oficiais, para o atendimento gratuito de toda a necessidade da rede pública de saúde, o que seria um passo além dos acertados genéricos, que, comprovadamente, não atendem a população mais carente. A Fiocruz deu um passo nessa direção. Precisamos urgentemente de uma política nacional de medicamentos à altura das necessidades e do interesse do povo brasileiro; uma política que, além de oferecer acesso a todos, gere novos empregos e desenvolvimento científico e tecnológico. Não se constroem políticas públicas sérias com penduricalhos pirotécnicos pré-eleitorais como esse e a desnecessária Hemobras, para citar apenas dois exemplos recentes. José Aristodemo Pinotti, 69, deputado federal pelo PFL-SP, é professor titular de ginecologia da USP e presidente do Instituto Metropolitano de Altos Estudos. Foi secretário da Educação (1986-87) e da Saúde (1987-91) do Estado de São Paulo, secretário da Saúde do município de São Paulo (2000) e reitor da Unicamp (1982-1986). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Jean-Pierre Férézou e Roberto Nicolsky: Excelência científica e crescimento Índice |
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