São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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Cerco à impunidade

AMPLIAR as formas de punir quem dirige embriagado é uma medida necessária contra o coquetel assassino, consumido em excesso no Brasil, composto por álcool e volante. Por isso, representa um avanço o recém-iniciado treinamento de policiais militares para identificar motoristas que beberam além do permitido.
Médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo vão treinar PMs na identificação mais exata dos sinais clínicos de intoxicação alcoólica. A técnica pode ajudar no caso de condutores que se recusarem a fazer o teste do bafômetro -lei federal de 2006 permite autuações com base em indícios de embriaguez, desde que na presença de duas testemunhas. Olhos vermelhos, soluços ou sonolência, dificuldade de entender fatos, perda da noção de tempo e falta de coordenação são alguns sinais que os policiais terão de buscar nos suspeitos.
Estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com base em laudos do Instituto Médico Legal, dá a dimensão de quão letal é essa cultura de dirigir alcoolizado: 56,6% dos motoristas que morreram em acidentes de trânsito na capital paulista em 2005 estavam nessas condições. A concentração alcoólica no sangue desses condutores foi, em média, de 1,7 g/l -a legislação tolera até 0,69 g/l, o equivalente a duas latas de cerveja de 350 ml. No país, o Ministério da Saúde avalia que metade das mortes no trânsito estão ligadas ao abuso de álcool.
Especialistas em medicina e em tráfego concordam que há um sentimento de impunidade disseminado entre motoristas brasileiros. Como quase ninguém é punido por beber e dirigir, dá-se a tal comportamento um reforço positivo. Com o treinamento do HC, a polícia terá uma ferramenta a mais para agir de forma efetiva e apertar o cerco contra os condutores imprudentes que colocam vidas em risco.


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